Título: Um voto de 120 páginas
Autor: Oliveto, Paloma; D´Elia, Mirella
Fonte: Correio Braziliense, 19/03/2009, Brasil, p. 12

Conhecido por suas posições polêmicas e por não ter papas na língua, o ministro Marco Aurélio Mello roubou a cena ontem na retomada do julgamento sobre a demarcação da reserva indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima. Depois de interromper a discussão em dezembro do ano passado, com um inesperado pedido de vista, ele adiou mais uma vez a decisão. Desta vez, o motivo foi justamente seu longo voto em plenário. O ministro falou por quase sete horas para defender seus pontos de vista em um extenso voto de 120 páginas, provocando, por vezes, tédio e até mesmo cochilos de alguns colegas.

A apresentação tomou praticamente o dia todo de julgamento, arrastando por mais um dia o desfecho do imbróglio. Nos bastidores da mais alta Corte de Justiça do país, o gesto foi interpretado como uma resposta de Marco Aurélio. O magistrado ficou visivelmente irritado em dezembro, quando ministros insistiram em adiantar seus votos mesmo diante do pedido de vista que ele havia apresentado.

Ontem, Marco Aurélio deu o troco e despertou, também, irritação no plenário devido à demora na conclusão do voto. Até mesmo Celso de Mello, o mais antigo integrante do Supremo, que é conhecido por suas longas explanações, contentou-se em um voto de apenas 30 páginas, resumido de forma ¿minimalista¿, como classificou. Mesmo diante da argumentação, Marco Aurélio acabou vencido ¿ o que também não é raro nos julgamentos do tribunal. (MD)