Título: OAB admite que demorou a combater ditadura
Autor: Otavio, Chico
Fonte: O Globo, 15/12/2008, O País, p. 5

O presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Cezar Brito, admitiu ontem que a entidade só assumiu, oficialmente, uma posição contrária aos abusos cometidos pela ditadura militar a partir de 1972. Até então, reconhece ele, prevalecia a idéia de que a Ordem deveria se manter neutra politicamente e voltada para os interesses da corporação.

¿ A OAB, na época, enquanto instituição, não apoiou nem desaprovou o golpe. Entendeu que o assunto não era de sua competência, embora reagisse pontualmente em vários episódios ¿ disse Cezar.

Pesquisa feita pela historiadora Denise Rollemberg, publicada na semana passada pelo GLOBO, mostrou que a OAB teve uma postura ambígua, nos primeiros anos da ditadura, inclusive depois do AI-5, tendo entre os seus conselheiros alguns colaboradores do regime ¿ entre eles, um ex-presidente, Povina Cavalcanti, que participou de uma comissão de investigação criada pelo governo Costa e Silva logo após a decretação do AI-5 em dezembro de 1968.

¿ O grupo conservador na época era muito forte, inclusive em várias seccionais. Algumas delas permaneceram fortes em alguns estados, mesmo quando a Ordem tinha papel institucional relevante e assumido ¿ contou Cezar.

O presidente do Conselho disse que havia gente da OAB entre os que apoiaram o golpe que derrubou o presidente João Goulart. Mas lembra que não estavam sozinhos:

¿ Até Dom Hélder Câmara, no começo, também apoiou o golpe. No início, foi apresentado como forma de evitar que o Brasil entrasse no comunismo. O discurso empolgou. Em função disso, várias instituições ou apoiaram abertamente ou não reagiram, o que foi um equívoco. Os fins não justificam os meios.

Cezar Brito garante, porém, que o debate sobre o papel da Ordem ¿ de se envolver ou não em questões políticas ¿ continua até hoje:

¿ O debate sobre o papel da OAB é permanente. Ainda hoje, há vários advogados que defendem que a OAB não deve ser envolver em questões institucionais. Deve ser apenas um órgão de classe voltado para interesses da corporação. Hoje, é um grupo minoritário, mas já foi mais forte no passado.