Título: Nas tarifas, a conta da crise
Autor: Duarte, Patrícia; tavares, Mônica
Fonte: O Globo, 15/12/2008, Economia, p. 17
Alta do dólar deverá encarecer em até 6,5% energia elétrica e remédios em 2009.
A crise global vai atingir em cheio o bolso do consumidor em 2009 por causa das tarifas públicas mais caras. O principal canal de transmissão será o dólar, cuja cotação encontra-se hoje na casa dos R$2,40, quase um real acima de quatro meses atrás. Dois itens importantes que serão afetados são a energia elétrica e os medicamentos, que subirão até 6,5%. Devido a pressões como essas, a projeção é que o ritmo de reajuste dos chamados preços administrados suba 50% no ano que vem, passando de 3,61%, de 2008, para 5,4%.
- Muitos preços monitorados são afetados pelo câmbio. Até a crise, eles foram muito bem, com pequenos reajustes. Mas, para 2009, o cenário é bem diferente - avalia o economista-chefe da corretora Concórdia, Elson Teles.
As tarifas de energia são as que devem subir mais, após período de queda ou aumentos marginais. Em 2006, o reajuste foi de 0,28% e, no ano passado, houve queda média de 6,16%. Este ano, até novembro, o índice ainda não chegou a 1%. Segundo o assessor da superintendência de Regulação Econômica da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Eduardo Alencastro, as distribuidoras que compram energia de Itaipu e abastecem as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste vão ter reajustes mais pesados daqui para frente, por causa do dólar mais caro. Ele prevê reajuste entre 3% e 5%:
- Por enquanto, não existe outro componente que possa compensar essa alta vinda com o dólar - disse, acrescentando que nas suas contas o dólar médio é de R$2,20.
Plano de saúde deve seguir IPCA maior
O motorista Antônio Jeroan de França, piauiense radicado em Brasília, diz que terá que controlar o desperdício de luz em sua casa, na cidade-satélite Ceilândia Sul. Ele afirma que sua conta, de cerca de R$45, pesa muito no orçamento.
- Quando chego em casa, a primeira coisa que faço é apagar as luzes que os meu filhos deixam acesas. Tem dias que a minha casa parece uma árvore de Natal - brinca Antônio.
Já a aposentada Ivone Machado é cética, e acredita que o preço da luz vai aumentar. Ela lembra que nunca viu os preços diminuírem, mas que, em momentos de crise, eles sempre sobem mais que o normal. Moradora do Lago Norte, bairro nobre da capital federal, esta mineira gasta, em média R$200 por mês com a conta de luz.
Os remédios também devem ter reajustes maiores, porque muitas matérias-primas são cotadas em dólar. Para Teles, da Concórdia, os aumentos médios serão de 6,4% em 2009, bem menos que os 4,2% esperados neste ano:
- Mas, neste caso, o governo pode decidir segurar os aumentos.
Há ainda os preços administrados atrelados à variação do índice oficial de inflação, o IPCA. A taxa passou a maior parte do ano pressionada pela demanda aquecida e, desde outubro, sofre a influência do real desvalorizado. Isso deve manter o reajuste dos planos de saúde no mesmo patamar deste ano: 5,8%.
Já as passagens de ônibus urbanos, na média, deverão ter alta de 7,5%, a maior entre os principais itens administrados. As eleições municipais evitaram reajustes em 2008.
- Em 2009, na verdade, os aumentos levarão em conta dois anos de inflação. A de 2007 e a de 2008 - explicou o economista da consultoria Tendências Jean Barbosa.
No setor de transporte interurbano e interestaduais, o peso das tarifas deve ser menor devido à projeção de queda nos preços do diesel. Esta é uma das principais variáveis do índice de correção das passagens, realizado anualmente pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
- A correção ficará próximo do IPCA - afirma o superintendente da Associação Brasileira de Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros (Abrati), José Luiz Santolin.
Mas há duas boas novas. A telefonia fixa não deve castigar o consumidor e o preço da gasolina deve cair. Com a queda de quase US$100, para US$47 o barril, o governo pode cortar em até 8% os preços dos combustíveis, segundo analistas.