Título: Opção francesa imersa em polêmica
Autor: Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 16/12/2008, O País, p. 8

Escolha de submarinos provoca críticas.

A decisão do governo brasileiro de comprar os submarinos Scorpene, de tecnologia francesa, mergulha, desde o começo do ano, em polêmica. Um relatório, elaborado por oficiais da Marinha que acompanharam o uso da tecnologia e tomaram como base relatos de homens que operaram os submarinos no Chile, revela fragilidades no sistema: afirma que a manutenção "é cara e complexa" e que a Marinha do Chile tem "grande dificuldade" para obter preços acessíveis de peças para reposição. Aponta ainda que a qualidade do material de construção é inferior ao modelo alemão, importado anteriormente pelo Brasil.

Nos sites especializados no setor, os debates começaram logo depois do encontro entre os presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Nicolas Sarkozy, em fevereiro, na Guiana Francesa, quando discutiram a compra dos submarinos - a um custo de US$300 milhões cada um.

A Marinha, em nota, reconhece que há "vantagens e desvantagens" nas opções analisadas antes da decisão de optar pelo modelo francês e afirma que o relatório também foi levado em conta para fazer a escolha. Pondera, no entanto, que o fator determinante para a decisão foi o fato de que a França está disposta "contratualmente" a transferir tecnologia de projeto de submarinos, "cooperando no projeto do submarino nuclear brasileiro". "É exatamente isso o que interessa ao Brasil", diz a nota da Marinha.

O relatório do oficial da instituição aponta também as vantagens de o Brasil adquirir os submarinos do consórcio HDW/MFI, de quem comprou, na década de 80, os cinco submarinos de que dispõe. O contrato para a aquisição chegou a ser preparado, há dois anos. Mas o protocolo foi suspenso até a decisão de optar pela tecnologia francesa. Um dos benefícios do contrato seria o "amplo financiamento, a baixo custo".

A Marinha afirma, em nota, que atualmente apenas dois países do mundo ocidental produzem e desenvolvem projetos de submarinos nucleares e convencionais - Rússia e França. A transferência de tecnologia e a disposição dos franceses em cooperar como o projeto do submarino nuclear atraíram o Brasil. O projeto da Marinha é que o reator nuclear, em fase de construção, esteja operando no Brasil em 2013.