Título: FMI alerta para risco de recessão global em 2009
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Fonte: O Globo, 16/12/2008, Economia, p. 27

Para Strauss-Kahn, crescimento de países emergentes, incluindo China, não compensará contração de ricos

MADRI, WASHINGTON, PEQUIM e TÓQUIO. Pouco mais de um mês após prever que a recessão em 2009 seria restrita aos países ricos, o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, alertou ontem, em Madri, para a possibilidade de uma recessão global. Segundo ele, as próximas previsões de crescimento da economia mundial do organismo, a serem divulgadas em janeiro, serão ainda piores que as atuais, feitas em novembro. Além disso, o crescimento das economias emergentes, entre elas a China, não compensará a recessão nos países industrializados.

- As possibilidades de uma recessão global estão, de fato, diante de nós - disse Strauss-Kahn, ao participar de uma conferência sobre a Espanha e as instituições financeiras internacionais, em Madri.

No dia 6 de novembro, o FMI afirmou em relatório que os países mais desenvolvidos sofrerão uma recessão de 0,3% em 2009 - a primeira desde 1945 -, afetando o crescimento mundial, que não deve passar de 2,2%.

O diretor-gerente do FMI acredita que a China pode reduzir seu ritmo de crescimento para 5% ou 6% no ano que vem, número muito inferior ao previsto pelo FMI em novembro. Projetava-se que a economia chinesa crescesse 9,7% em 2008 e 8,5% em 2009.

FMI defende incentivos fiscais de 2% do PIB

Para o diretor-geral do Fundo, a reação internacional à crise financeira tem sido "pequena, mal inspirada quanto ao seu projeto e com dúvidas quanto a sua implantação".

- Enfrentamos uma queda sem precedentes da produção e existe uma incerteza substancial que limita a eficácia de algumas medidas de política fiscal - disse Strauss-Kahn, que defendeu a adoção de pacotes de incentivos fiscais equivalentes a 2% do Produto Interno Bruto (PIB, soma dos bens e serviços produzidos em um país).

O ano de 2009 será muito difícil, segundo ele, mas a recuperação da economia pode ocorrer em 2010 se forem perseguidas políticas ativas que complementem as medidas adotadas até o momento, por enquanto insuficientes.

Na mesma conferência, o ministro da Economia da Espanha, Pedro Solbes, destacou "os efeitos intensos" da crise em seu país, atualmente em recessão.

Produção industrial recua nos EUA e na China

Confirmando o quadro de desaceleração global, os Estados Unidos informaram ontem que a produção industrial no país caiu em novembro pela terceira vez em quatro meses, puxada pela crise das montadoras, cujas vendas desabaram. A produção de fábricas, minas e concessionárias de serviços públicos caiu 0,6% - menos que o esperado, de 0,8% -, depois de crescer 1,5% em outubro, segundo dados revisados. Com as vendas mais fracas em 26 anos, General Motors e Chrysler estão à beira da falência e reduziram sua produção, aprofundando a recessão nos EUA, que começou há um ano.

Na China, o crescimento anual da produção industrial desacelerou para 5,4% em novembro, a taxa mais fraca em pelo menos nove anos para um mês sem feriados. Em outubro, houve expansão de 8,2%, segundo a agência nacional de estatísticas chinesa. O resultado de novembro ficou abaixo da expectativa de analistas consultados pela Reuters, de 7,1%.

Confiança da indústria no Japão em queda

No Japão, a recessão derrubou a confiança dos industriais. O índice que mede a confiança entre os grandes fabricantes de automóveis e produtos eletrônicos caiu de menos 3 pontos em setembro para menos 24 pontos em dezembro, segundo o relatório trimestral Tankan, do Banco do Japão (o BC japonês), a maior queda em 34 anos. O número negativo significa que os pessimistas são mais numerosos que os otimistas.

O resultado sinaliza que as empresas provavelmente vão cancelar os planos de gastos e fazer novos cortes de empregos, o que empurrará a economia do país para uma recessão mais profunda. (Com Bloomberg News e agências internacionais)