Título: Temporão irrita Cabral e é forçado a adiar evento
Autor: Alencastro, Catarina; Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 17/12/2008, O País, p. 10
Governador cobra satisfação de ministro por tentar lançar em Brasília, sem convidar, versão nacional das suas UPAs.
BRASÍLIA. Um mal-estar entre o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, e o governador do Rio, Sérgio Cabral, adiou ontem a solenidade em que o governo federal anunciaria a implantação das Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) em todo o país. Cabral considerou uma falta de delicadeza do ministro, que assumiu o cargo por indicação sua, não informá-lo sobre a iniciativa de nacionalizar um projeto que nasceu no Rio, durante sua gestão. O governador só tomou conhecimento na véspera do evento, que aconteceria ontem em Brasília, e reagiu de imediato.
Cabral usou seu blackberry para reclamar, disparando e-mails para o ministro.
- Eu e Sérgio Côrtes (secretário de Saúde do estado) é que criamos as UPAs e não somos sequer avisados, chamados? E, além de tudo, o lançamento é em Brasília? - teria protestado Cabral, forçando o ministro a cancelar o lançamento ontem e remarcar para sexta-feira. Agora, o lançamento do programa de criação de UPAs no Brasil acontecerá no Rio.
As UPAs, que atendem 24 horas, inclusive nos fins de semana, visam a desafogar em até 70% o atendimento nos hospitais públicos. A idéia de um modelo intermediário entre o posto de saúde e o hospital surgiu de um pedido de Cabral a seu secretário de Saúde, para amenizar a superlotação dos hospitais do Rio. Em maio do ano passado, o governo fluminense inaugurou a primeira UPA, na Favela da Maré, equipada com consultórios de pediatria, clínica geral, ortopedia e odontologia.
Concebidas para atender pequenas e médias emergências, as UPAs contam ainda com sala de nebulização, medicação, sutura, raios-X e gesso, além de um laboratório para exames. Ao todo, o Rio dispõe de sete unidades. Além daquela da Favela da Maré, ainda há UPAs em Irajá, Santa Cruz, Bangu, Campo Grande, Belford Roxo e Tijuca. Outras duas estão em construção. A Secretaria de Saúde do estado planeja criar 30 até 2010.
"Temporão puxou tapete", diz presidente da Funasa
Em guerra com Temporão, o presidente da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), Danilo Forte, pôs ontem toda sua diretoria para mostrar a jornalistas, com gráficos e números, o sucesso de sua gestão. Forte passou 2008 sob a mira do ministro, que condenou sua administração e acusou a Funasa de estar envolvida em corrupção e de ser incompetente. A fundação perderá a atribuição de cuidar da saúde indígena, que ficará sob controle de uma nova secretaria. Para Forte, o que o ministro fez foi "uma puxada de tapete".
Forte demonstrou ressentimento e foi cético sobre a melhoria do atendimento aos 530 mil indígenas do país:
- Só o futuro vai responder. Minha preocupação é com o vácuo administrativo na mudança de um sistema para outro. Seria o pior dos mundos. A ação tem que ser continuada.
Sobre o clima entre servidores da Funasa com a criação da futura secretaria, Forte afirmou:
- Há um abatimento. Por isso é preciso fazer logo essa transição. O funcionário trabalha tanto e depois se puxa o tapete. Tem muita gente boa na Funasa.