Título: Mercosul vai importar têxteis da Bolívia que eram vendidos para EUA
Autor: Almeida, Cássis; Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 17/12/2008, Economia, p. 25

Autonomia latino-americana é destaque em encontro do bloco.

COSTA DO SAUÍPE (BA). A afirmação da autonomia latino-americana perante os Estados Unidos tomou conta dos discursos da Cúpula do Mercosul, que reúne Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, a primeira das Cúpulas que começou ontem na Costa do Sauípe, em Salvador. O bloco decidiu importar os produtos têxteis da Bolívia que eram exportados para os EUA em regime de preferência, com tarifa zero, num montante de US$30 milhões, para fazer frente à perda de US$21 milhões com o embargo americano à produção boliviana.

- O governo boliviano sofreu uma vingança política do presidente Bush. Ele suspendeu a importação de têxteis, desrespeitando a própria decisão do Congresso americano. Não respeitou as leis internacionais e o governo boliviano está preparando ação contra a medida - disse o presidente da Bolívia, Evo Morales, que participou do encontro.

Tentativa de negociação com presidente eleito Obama

Morales afirmou que só está esperando a posse do presidente eleito dos EUA, Barack Obama, para "poder corrigir essa injustiça, essa vingança de Bush contra a Bolívia".

O governo americano tirou a preferência dos produtos bolivianos como represália ao rompimento por parte da Bolívia de acordo firmado com o Departamento de Combate às Drogas dos EUA.

"Em solidariedade com o governo e povo da Bolívia, (os países do Mercosul) coincidiram na importância de acordar medidas emergenciais concretas de apoio à Bolívia", informou o comunicado do encontro.

Hugo Chávez, presidente da Venezuela, país associado em processo de adesão, chegou exatamente no fim da reunião do Mercosul e não deu muitas explicações para a falta.

- Não tive tempo - repetia Chávez, destacando a independência do continente, ao dizer que os Estados Unidos "não mandam mais aqui" e que acabou "o império das colônias".

Anteontem, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, dissera que os países da América Latina e Caribe não precisam da tutela externa para tratar de seus assuntos. Esta é a primeira Cúpula da América Latina e do Caribe, já que europeus e americanos sempre participaram de encontros anteriores. (Cássia Almeida e Cristiane Jungblut)