Título: Opep faz corte histórico, mas preços caem
Autor:
Fonte: O Globo, 18/12/2008, Economia, p. 27

Apesar de cartel reduzir produção em 2,2 milhões de barris, cotação recua até 8%, para US$40.

ORÃ, Argélia, e NOVA YORK

AOrganização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) anunciou ontem um corte de 2,2 milhões de barris diários de petróleo, a maior redução feita de uma só vez pelos 11 países-membros do cartel. Em comunicado, o grupo considerou a medida como parte complementar do corte anterior de dois milhões de barris diários, anunciados em setembro, como uma tentativa de estabilizar a cotação do petróleo que, desde julho, já caiu mais de US$100, devido aos temores de que uma recessão global afete ainda mais a demanda. Com isso, a partir de janeiro de 2009, a produção terá redução total de 4,2 milhões de barris diários. A medida, que foi acompanhada por países fora do cartel, não conseguiu, no entanto, segurar o preço da commodity, que caiu ontem abaixo dos US$40.

- Espero ter surpreendido vocês - disse o presidente da Opep, Chekib Khelil, ao ser perguntado se o corte anunciado seria capaz de mudar a tendência dos preços. - Se vocês não ficaram surpresos, então ainda precisaremos fazer algo sobre isso.

E de fato, os mercados não se mostraram impressionados. Na Bolsa Mercantil de Nova York, o preço do barril do tipo leve para entrega em janeiro caiu 8%, para US$40,06, após recuar até US$39,88, a menor cotação desde julho de 2004. Já na Bolsa Internacional de Petróleo, em Londres, o barril do tipo Brent caiu 2,4%, para US$45,53.

Para os analistas, a queda dos preços indica que os investidores ainda estão preocupados com os rumos da economia mundial, que se aproxima de uma longa recessão global, o que vai afetar o consumo de combustíveis. Em apenas cinco meses o barril perdeu toda a valorização acumulada nos últimos dois anos.

Durante a reunião da Opep, os ministros de Petróleo expressaram esperança de que a Rússia - o segundo maior produtor mundial, atrás da Arábia Saudita - aderisse ao movimento do bloco de corte de produção. No entanto, apesar de o vice-premier russo, Igor Schin, e o ministro de Energia do país, Natik Aliev, terem anunciado um corte de 600 mil barris diários, a posição da Rússia foi recebida como apenas simbólica.

- Parece que, apesar de as nações produtoras estarem enfrentando dificuldades, eles não têm coragem de seguir adiante e fazer o tipo de corte que poderia inverter a situação de um modo interessante para os operadores - disse Addison Armstrong, diretor de pesquisa de mercado da Trading Energy, em Stamford, Connecticut.

Em sua nota, a Opep justificou o corte, afirmando que "o volume de petróleo que entra no mercado continua bem acima da demanda atual". Além disso, "o impacto da grave retração da economia global levou à destruição da demanda, resultando numa pressão de queda sobre os preços sem precedentes". O cartel alertou ainda que a contínua deterioração dos preços terá impacto negativo nos investimentos necessários para garantir a oferta necessária de petróleo no médio e longo prazos. O governo americano criticou a decisão da Opep.

- Não está claro se as ações da Opep farão efetivamente uma virada na demanda global - disse o porta-voz da Casa Branca, Tony Fratto. - A Opep tem a obrigação de manter os mercados bem abastecidos e considerar a saúde da economia global, portanto os esforços para limitar os benefícios de preços menores de energia são míopes.

oglobo.com.br/blogs/adriano