Título: Correa critica Brasil, mas diz que quitará próxima parcela da dívida
Autor: Jungblut, Cristiane; Almeida, Cássia
Fonte: O Globo, 18/12/2008, Economia, p. 31

Débito de US$20 milhões com BNDES vence dia 29. Lugo evita confronto.

COSTA DO SAUÍPE (BA). O presidente do Equador, Rafael Correa, causou constrangimento a seu colega Luiz Inácio Lula da Silva ao criticar -, durante entrevista coletiva da Cúpula da América Latina e Caribe para Integração e Desenvolvimento (Calc) - a decisão do Brasil de trazer de volta o embaixador que atuava naquele país após o governo equatoriano contestar uma dívida junto ao BNDES. No encontro bilateral com Lula, porém, Correa disse que vai honrar a próxima parcela da dívida, de cerca de US$20 milhões, que vence dia 29. O total devido é de US$243 milhões.

- Respeitamos o Brasil, mas não compartilhamos da decisão (de trazer o embaixador de volta) e esperamos que a decisão seja revista. Receberemos o embaixador (Antonino Porto) de braços abertos e todos que quiserem ir ao Equador - disse Correa, acusando o Brasil de ter transformado um problema diplomático em algo que ele considera ser um problema "comercial".

Diante de um Lula com a fisionomia fechada, Correa disse que aquela entrevista não era o local adequado para tratar do assunto, mas lembrou que o Equador não teve o mesmo comportamento do Brasil - retirar um embaixador - quando a Petrobras contestou, em comissão de arbitragem internacional, um contrato naquele país.

- Há casos com o Brasil que precisam ser revisados, mas não queria incluir isso porque é um problema bilateral - disse Correa, para mais tarde falar do caso concreto. - A moratória do país não é pela crise, e sim pelos muitos vícios de imoralidade e ilegalidade.

Os presidentes do Paraguai, Fernando Lugo, e da Bolívia, Evo Morales, reforçaram discursos de não-pagamento de dívidas contraídas principalmente junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial.

Lugo disse que agradecia o fato de agora o Paraguai conseguir fazer uma auditoria sobre a dívida de Itaipu e classificou as dívidas como ilegais e ilegítimas. Por isso, disse, devem ser revistas. Lugo evitou, no entanto, dizer que Itaipu é uma delas:

- É muito difícil dizer se é - disse, ao qualificar este débito como absurdo. - Antes, isso era intocável. Agora, temos autorizada a auditoria. Agradecemos a abertura de Lula.

Reunião ministerial vai decidir dívida de Itaipu

No encontro bilateral com Lula, pela manhã, ficou acertado que as discussões sobre o preço da energia paga ao Paraguai e o passivo da dívida da usina serão discutidos por uma comissão ministerial:

- Os ministros das Relações Exteriores, da Fazenda e de Minas e Energia de ambos os países vão se reunir em janeiro para discutir essas questões. Foi um avanço, já que os debates estavam restritos a uma comissão técnica - informou o embaixador paraguaio, Luiz Gonçalvez.

Segundo o assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, se não houver acordo em janeiro, será feita uma reunião em nível presidencial.

O presidente boliviano foi mais ponderado. Morales disse que as dívidas com o FMI e com o Banco Mundial são imorais, mas excluiu as dívidas bilaterais, nas quais estão as do Brasil.

- Algumas dívidas são impagáveis (com o FMI e Banco Mundial, por exemplo), mas outras, com fins sociais, temos obrigação de reconhecê-las -- disse Evo.

A todos, Lula apenas ouviu sem se manifestar durante a entrevista coletiva. (Cassia Almeida e Cristiane Jungblut, enviadas especiais)