Título: Líderes latino-americanos querem a OEA do B
Autor: Jungblut, Cristiane; Almeida, Cássia
Fonte: O Globo, 18/12/2008, Economia, p. 31

Chefes de Estado reunidos na cúpula da América Latina e Caribe cobram de Obama nova postura para a região.

COSTA DO SAUÍPE (BA). Às vésperas da mudança de poder em Washington, os 33 países reunidos de forma inédita na Cúpula da América Latina e do Caribe (Calc) cobraram ontem do presidente eleito dos EUA, Barack Obama, uma mudança na política americana em relação à região. Para reforçar a posição de independência, os chefes de Estado pediram o fim do embargo a Cuba, considerando-o um exercício de vingança, e, numa ação política ousada, lançaram a idéia de um fórum próprio de debates e solução de controvérsias, a União Latino-Americana e do Caribe - uma espécie de "Organização dos Estados Americanos (que os EUA integram) do B".

- Os EUA vão ter um novo presidente que vai tomar posse em 20 de janeiro. Um jovem, bem formado, em Harvard, um negro que encantou os EUA. Está na hora de a América Latina exigir uma discussão política com ele. Saber qual a visão que vai ter da América Latina - afirmou Lula.

Ele recusou rótulos ideológicos e pediu que a região seja levada a sério:

- Não queremos a "Aliança para o Progresso" da década de 60, nem tampouco queremos ser vistos como um grupo de esquerdistas recebendo orientação de Cuba. Não existe mais isso na América Latina - discursou Lula, na mais contundente intervenção. - Não consigo entender a permanência do bloqueio a Cuba, a não ser por birra. Espero que Obama decida reatar com Cuba, não existe mais nenhuma explicação política, sociológica para o bloqueio a Cuba. Será que é vingança?

A "OEA do B" reuniria os países da Calc sem a participação de EUA e Canadá. A idéia foi apresentada pelo presidente do México, Felipe Calderón, aliado dos EUA, e recebeu apoio imediato de dirigentes de outras nações, como Michele Bachelet, do Chile, Hugo Chávez, da Venezuela, e Manuel Zelaya, de Honduras.

Calderón disse que a oficialização poderia se dar em 2010, quando serão celebrados os 200 anos da independência dos primeiros países, México e Chile.

Lula considerou a realização, o resultado e a repercussão da Calc uma vitoria pessoal, por seu empenho na realização da conferência. Na entrevista de encerramento do evento, ele arrancou risos ao fazer uma brincadeira em referência ao ataque, com um sapato, de um jornalista iraquiano ao presidente dos EUA, George W. Bush.

- Gente, por favor, ninguém tira o sapato. Aqui, como é muito calor, se alguém tirar o sapato, a gente vai perceber antes de jogar por causa do chulé - disse Lula.