Título: Em comissão do Senado, troca de farpas
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 19/12/2008, Economia, p. 31

Mercadante alfinetou Meirelles e quis saber porque juros não caíram se havia disposição.

BRASÍLIA. O clima esquentou entre o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles e o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), durante audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), presidida pelo parlamentar. A audiência aconteceu pouco depois da divulgação da ata do Comitê de Política Monetária (Copom). Mercadante cobrou explicações sobre a manutenção dos juros na última reunião do Copom, já que a maioria dos participantes tinha discutido a possibilidade de cortar a taxa, conforme mostrou o documento.

Meirelles participava de encontro como convidado, para fazer um balanço das medidas do governo para minimizar os efeitos da crise.

- Como a maioria do Copom acha que tem que reduzir 0,25 ponto percentual e por unanimidade resolve manter? Não consigo entender o que é que aconteceu naquela sala, se a maioria virou minoria, e ainda por consenso. Realmente, queria saber quem é essa minoria, porque é um perigo - afirmou o senador.

Meirelles disse que seria uma surpresa que Mercadante não defendesse a queda dos juros, diante de sua posição histórica. E explicou:

- Quando a ata diz que a maioria considerou a possibilidade, não diz que a maioria decidiu pela queda. Diz que a maioria considerou a possibilidade de fazer corte já naquela reunião. Discutiu-se essa possibilidade e, no entanto, a unanimidade, o que significa inclusive a maioria, concluiu que não era o momento adequado para fazer esse corte.

O presidente do BC aproveitou para dar uma alfinetada:

- Isso está claramente explicitado no comunicado e na ata. Portanto, a ata está absolutamente consistente e, por diversas avaliações técnicas, bastante entendida por muitas pessoas.

Meirelles, no entanto, apressou-se em afirmar que não queria transformar a audiência num reunião pós-Copom:

- Nós não podemos transformar essa reunião numa réplica da reunião do Copom, porque isso seria inadequado do ponto de vista de sinalizações para os agentes econômicos. Por isso, estou sendo tão cuidadoso em não entrar numa discussão pós-ata ou explicação da ata, porque isso é altamente inadequado.

Além do bate-boca, a audiência na CAE foi marcada por uma gafe. No início dos trabalhos, Mercadante chamou Meirelles, que foi eleito deputado pelo PSDB em 2002, de senador. Diante do burburinho, Meirelles brincou que havia sido "promovido". Mercadante, em seguida, tentou explicar que tratava-se de um elogio e tentou uma reverência, comparando a Câmara a uma rodoviária e o Senado, a um aeroporto. Mais tarde, tentou se desculpar e disse que a brincadeira se referia a uma comparação entre Congresso - rodoviária - e BC - aeroporto.

Meirelles passou boa parte do tempo justificando as decisões do BC e, num tom jocoso, disse que se a dose (de elevação dos juros) fosse excessiva, a economia não teria crescido. Ele citou dados relativos ao crescimento dos investimentos, do consumo das famílias e da demanda interna.

DILMA DIZ QUE PETROBRAS VAI INVESTIR R$40 BI EM 2009, na página 32