Título: Inflação no segundo plano
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 19/12/2008, Economia, p. 31

BC demonstra preocupação com atividade econômica e já admite gasolina mais barata em 2009

Aata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem, revelou que a diretoria colegiada do Banco Central (BC) avaliou reduzir os juros básicos da economia em 0,25 ponto percentual na semana passada. Deixou claro ainda que a desaceleração da economia deverá roubar da inflação o protagonismo na definição da taxa básica de juros daqui em diante. Combinados, os fatores consolidaram entre os analistas a expectativa de que a Taxa Selic, mantida na última reunião em 13,75% ao ano, vai recuar já no próximo encontro, em janeiro. As apostas variam entre corte de 0,25 e de 0,5 ponto.

Como boa notícia em relação à inflação, o BC admitiu pela primeira vez a possibilidade de haver redução nos preços da gasolina em 2009. Isso vem da forte queda nas cotações internacionais do petróleo, que estão abaixo de US$50 o barril. Há alguns meses, elas estavam ao redor de US$150. Para este ano, o Copom manteve a projeção de estabilidade nos preços da gasolina.

A ponderação sobre a redução dos juros ainda em dezembro deveu-se à leitura do Copom de que a crise internacional virou de ponta-cabeça o cenário econômico do país nos últimos meses, com forte redução no crédito e na confiança dos consumidores e empresários, o que levará a atividade a perder força de maneira substancial. Dessa forma, a probabilidade maior é que as pressões inflacionárias serão atenuadas, indica a ata. O alto grau de incerteza, porém, fez prevalecer a tradicional cautela do BC.

- A ata revela uma mudança de diagnóstico. Antes detectava um descompasso entre oferta e demanda, e agora mudou. Houve uma redução abrupta na demanda interna, com falta de financiamento - avaliou o consultor do banco Itaú Joel Pogdanski, que acredita em uma redução da Selic no próximo mês, de 0,25 ponto.

O comitê diz na ata que enxerga redução dos "riscos para a concretização de um cenário inflacionário benigno, no qual o IPCA voltaria a evoluir de forma consistente com a trajetória das metas". O objetivo do BC é levar a inflação para o mais próximo do centro da meta oficial, de 4,5% pelo IPCA, em 2009. Hoje, as projeções estão em 5,20% para o período.

Freio na economia vai compensar dólar alto

O Copom já revelara, no curto comunicado após a reunião, que a maioria dos seus integrantes tinha avaliado corte. Choveram então críticas, sobretudo do setor produtivo, que defendia redução maior diante da desaceleração econômica. O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) deve recuar de quase 6% neste ano para algo em torno de 2,5% em 2009, segundo projeções do mercado.

Pelo ata, o Copom confrontou as críticas afirmando que "os riscos que prosseguem para a dinâmica inflacionária, derivados da possível persistência da elevação da inflação observada neste ano e das conseqüências do processo de ajuste do balanço de pagamentos, continuam condicionando de forma predominante as diferentes possibilidades que se apresentam para a política monetária".

A freada na atividade econômica, avalia o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa, será tão brusca que acabará anulando os efeitos do dólar mais valorizado sobre uma inflação elevada. Por isso, também acredita que o Copom vai cortar, em 0,50 ponto, a Selic no seu próximo encontro:

- Os preços no mercado externo em queda, sobretudo das commodities, também ajudam na inflação.