Título: Lula diz não a mudanças trabalhistas
Autor: Tavares, Mônica
Fonte: O Globo, 19/12/2008, Economia, p. 35

Estamos nos matando para evitar que a crise chegue à América Latina.

Legenda da foto: RAÚL CASTRO e Lula brindam após almoço no Palácio Itamaraty: presidentes defenderam autonomia da região, depois da Cúpula

Chico de Gois

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou ontem que o governo pense em flexibilizar direitos trabalhistas, como querem alguns empresários, que alegam que essa seria uma maneira de enfrentar a crise econômica. Lula afirmou que o governo vai fazer de tudo para evitar que haja demissões.

Para Lula, não é papel do governo intermediar negociações entre empresários e trabalhadores. Ele disse que não há motivos para que empresas demitam funcionários. O presidente também relembrou que conversou com o presidente da Vale, Roger Agnelli, sobre as 1.300 demissões promovidas pela empresa. De acordo com Lula, ele disse a Agnelli que as empresas não podem demitir a qualquer sinal de crise.

- Eu não sei de onde saiu essa notícia - declarou Lula, em referência à flexibilização das leis trabalhistas. - Qualquer acordo entre trabalhadores e empresários será dirigido entre os trabalhadores e os empresários. Se os trabalhadores quiserem a participação ou a intermediação do governo, nós estaremos prontos. Mas nós achamos que esse problema não é uma coisa do governo.

Ao ser indagado sobre a possibilidade de ampliação da suspensão do contrato temporário de trabalho, Lula foi enfático:

- Acho que uma parte dos empresários poderia pagar com os lucros que acumularam. O governo não vai deixar de assumir a responsabilidade de cuidar dos trabalhadores. Mas nenhum empresário tem qualquer motivo para mandar trabalhador embora. Nenhum - observou. - O papel do empresário agora não é ficar encontrando um jeito de continuar tendo o mesmo lucro. O papel do empresário agora é trabalhar de forma muito rápida, com o governo, para que a gente evite que a crise chegue a toda sociedade.

Após encontro com o presidente de Cuba, Lula criticou a posição dos Estados Unidos.

- Estamos nos matando para fazer com que essa crise não chegue ao povo pobre dos países da América Latina. Estamos colocando dinheiro na economia para reativar a produção. E lá (EUA), a única coisa que eu sei é que eles estão colocando dinheiro para salvar banco. Ou seja, se esse dinheiro fosse pouco, fosse colocado para a indústria, para a agricultura, para os pobres, criassem um Bolsa Família, nós não teríamos a crise se aprofundando.