Título: IBGE: 61,5 milhões de brasileiros eram pobres em 2003
Autor: Weber, Demétrio; Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 19/12/2008, Economia, p. 37

Um terço dos municípios tinha mais da metade da população pobre. Paraty registrava a maior desigualdade do país.

O Brasil tinha 36,5% de sua população vivendo abaixo da linha da pobreza no primeiro ano do governo Lula - ou 61,5 milhões de pessoas. A informação faz parte do Mapa da Pobreza e Desigualdade, estudo inédito divulgado ontem pelo IBGE. Embora defasada, com dados coletados em 2003, a pesquisa é considerada importante por economistas ao utilizar, pela primeira vez, números de consumo per capita, em vez de renda, para medir o índice de pobreza da população brasileira.

Com base na Pesquisa de Orçamentos Familiares (2002-2003) e no Censo 2000, o IBGE calculou que 1.793 municípios - 32,6% do total - tinham metade dos habitantes na pobreza. E 76,8% dessas cidades ficam no Nordeste. Pelo estudo, é considerado pobre quem não tem acesso a uma cesta alimentar e de bens mínima necessária para a sobrevivência. Foram criadas cestas para cada região do país e áreas metropolitanas. No Rio de Janeiro, a cesta é de R$244,41. Em São Paulo, de R$265,38. Já no Nordeste rural, de R$77,71.

Além da pobreza, a desigualdade era elevada em 40,7% dos municípios. Nessas cidades, o Índice de Gini - que varia de 0 a 1, sendo zero a melhor distribuição e 1 a desigualdade completa - superava 0,4. A partir desse valor, a desigualdade é alta. Mas, para Lena Lavinas, professora da UFRJ, o resultado da pesquisa não retrata o Brasil atual. Segundo ela, a pobreza foi reduzida nos últimos anos, resultado do crescimento econômico. Mesma avaliação fez o economista Marcelo Neri, da FGV. Ele acrescentou que o programa Bolsa Família, lançado em 2003, teria contribuído para redução das desigualdades.

As três cidades com maior parcela de moradores pobres do país estão em Tocantins: Campos Lindos (84% da população), Muricilândia (81,8%) e Mateiros (81,5%). A com menor parcela é Santos (SP), onde só 4,6% da população vivem na pobreza. O Rio de Janeiro aparece na posição 4.582, com 23,8%.

Entre as cidades mais desiguais do país, Paraty (RJ) lidera o ranking de 5.507 municípios. A forte migração de paulistas e cariocas de alto poder aquisitivo e a precária situação de moradores rurais fizeram da cidade a mais desigual. A menos desigual é Lajeado Lacerda (SC). A incidência de pobreza e o índice de desigualdade têm margens de erro, o que pode mudar o ranking, frisou o IBGE.

Japeri, no Grande Rio, tinha a maior incidência de pobreza (76,4%) do Sudeste. No Estado do Rio, a cidade com menor parcela na pobreza era Volta Redonda (10,9%).