Título: Quando a discrição abre portas no Planalto
Autor: Damé, Luiza; Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 04/01/2009, O País, p. 10

Remanescente do grupo que já teve Palocci e Dirceu, ministro Luiz Dulci é articulador de confiança do presidente.

BRASÍLIA. Conhecido pela discrição, o ministro da Secretaria Geral da Presidência, Luiz Dulci, pouco fala para o público externo, mas é um dos principais conselheiros do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com quem mantém amizade e uma relação política de quase 30 anos. Mineiro de Santos Dumont, 53 anos a serem completados dia 7 de janeiro, Dulci é o único ministro remanescente do chamado "núcleo duro", o grupo que, na primeira gestão de Lula, notabilizou-se pela proximidade com o presidente: José Dirceu, Antonio Palocci, Luiz Gushiken, Gilberto Carvalho e ele. Um a um foram caindo.

Dos ministros, Dulci foi o único que sobreviveu, principalmente por dois fatores: a lealdade absoluta a Lula e a inapetência pelo poder traduzida em cargos - depois de 2010, sua preocupação não é conseguir uma cadeira na Câmara, onde já esteve, em 1982, mas apenas um local para se dedicar à literatura, paixão à qual se entrega diariamente lendo em francês, italiano, espanhol, latim e grego. A falta de apetite para o poder seria o segredo de sua longevidade na equipe de Lula.

O próprio Lula já descreveu o comportamento de seu auxiliar da seguinte forma: "Ele é tão discreto que não conta um segredo nem para si mesmo".

Ministros que hoje integram a coordenação de governo - que se reúne semanalmente com Lula - dizem que Dulci está entre os mais influentes auxiliares de Lula, ao lado da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e do ministro da Secretaria de Comunicação, Franklin Martins. Para outros aliados, Dulci faz um trabalho periférico e de pouca repercussão. Mas não é essa a visão de Lula e do próprio ministro, que contabiliza a participação de 3,5 milhões de pessoas nas 50 conferências de diversos temas que realizou desde 2003 - um eleitorado e tanto.

Além de escrever os discursos de Lula, cabe ao ministro cuidar de um setor caro ao presidente: os movimentos sociais e sindicais. É Dulci quem abre as portas do Planalto para os antigos companheiros de lutas do presidente. Quando Lula viaja pelo país, uma equipe de Dulci vai na frente para conversar com os movimentos populares, saber das reivindicações e ver o que o presidente pode fazer. Não passa um dia sem que ele receba algum representante de organizações sociais.

Recentemente, o ministro intermediou um encontro entre dirigentes da CUT e a ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil. Dilma, pré-candidata a presidente, precisa se tornar mais conhecida, e os movimentos sindicais e populares podem contribuir para isso.

"Dulci, quando diverge, faz com jeito"

Lula e Dulci se conheceram em 1979, em Divinópolis (MG). Participaram da criação do PT e da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Quando Dulci ia a São Paulo, na década de 80, hospedava-se na casa de Lula, em São Bernardo do Campo. O secretário-geral da Presidência é membro do Diretório Nacional do PT desde sua fundação. Na campanha de 2002, foi encarregado de seguir os passos de Lula. O próprio presidente o escolheu, argumentando que "Dulci, quando diverge, faz com jeito".

oglobo.com.br/pais