Título: Israel inicia invasão por terra
Autor: Malkes, Renata
Fonte: O Globo, 04/01/2009, O Mundo, p. 28
Após 7 dias de bombardeio, tropas entram em Gaza para destruir bases de foguetes do Hamas Renata Malkes Depois de uma semana concentrados na fronteira entre Israel e a Faixa de Gaza, os primeiros soldados israelenses invadiram por terra a Faixa de Gaza na noite de ontem. Por volta das 20h (16h de Brasília), dezenas de soldados cruzaram a pé por três pontos diferentes da fronteira e deram início à batalha terrestre, com a cobertura de tanques e veículos blindados e helicópteros de guerra. Os soldados foram recebidos a bala por milicianos armados do grupo radical islâmico Hamas, nos primeiros tiroteios desde o início da ofensiva. Em nota, as Forças Armadas de Israel afirmaram que tropas de elite das unidades de inteligência, além de membros de brigadas de artilharia e de engenharia militar, foram acionadas com o objetivo de destruir por terra o que restou da infra-estrutura do Hamas e de bases de onde foguetes vinham sendo lançados pelo grupo. O ministro da Defesa, Ehud Barak, disse estar ciente do alto preço que o país pode vir a pagar. ¿ Não queremos enganar ninguém. Será uma operação longa e difícil. Não queremos guerra, mas não podemos abandonar os civis israelenses transformados em alvos do Hamas. Ismail Radwan, porta-voz do Hamas, ameaçou os soldados israelenses: ¿ Gaza não estará repleta de flores para vocês, mas pavimentada com fogo e inferno. Assim que começou a invasão, o Hamas transmitiu uma mensagem, em hebraico, na freqüência das rádios militares israelenses: ¿ Estejam prontos para uma surpresa! Vocês serão mortos ou seqüestrados e sofrerão doenças mentais devido aos horrores que mostraremos a vocês! Os ataques de artilharia atingiram a rede elétrica e mergulharam Gaza num apagão. A principal estrada que corta Gaza de norte a sul foi bombardeada para impedir a movimentação do Hamas. O grupo radical disse à TV al-Arabiya que pelo menos dois soldados israelenses teriam sido mortos no primeiro embate. Em mais um sinal de que a operação deve se arrastar por dias, o governo anunciou que convocará dezenas de milhares de reservistas, que devem se juntar nos próximos dias aos dez mil soldados já mobilizados para a operação. Enquanto os militares invadiam Gaza por terra, os bombardeios aéreos continuaram em áreas distantes da área oriental da Faixa de Gaza. Mais de 460 palestinos já morreram desde o início da operação sábado passado. Mesquita bombardeada quando 200 rezavam O ataque terrestre já era esperado durante todo o dia. Durante a tarde, pela primeira vez desde o início da ação militar tanques e peças de artilharia abriram fogo em diversos pontos da fronteira. Horas antes da invasão por terra, uma barragem de projéteis foi lançada na área próxima à fronteira para limpá-la de campos minados. À tarde, Israel bombardeou uma mesquita no momento em que cerca de 200 pessoas oravam. Pelo menos 11 pessoas, uma delas uma criança, morreram dentro da mesquita de Ibrahim al-Maqadna, em Beit Lahiya. Cerca de 60 pessoas ficaram feridas, 27 delas em estado "extremamente grave" segundo médicos. O bombardeio israelense a Gaza também matou ontem um importante líder militar do Hamas. Abu al-Jamal era o terceiro na escala de comando da ala militar do grupo e morreu ao ter seu veículo atingido por uma bomba quando inspecionava um grupo que vigiava posições dos navios da Marinha israelense. Ele foi o segundo líder militar importante do grupo morto desde que começaram os ataques israelenses no sábado passado. Na quinta-feira, Nizar Rayan foi morto com boa parte de sua família quando uma bomba de uma tonelada caiu em sua casa. Ontem, os bombardeios continuaram com força por mar e por ar, e mais de 20 alvos foram atingidos, entre eles a Escola Internacional Americana, que não é ligada ao governo dos EUA. Israel alegou que a escola era usada como esconderijo por militantes do Hamas e base para lançamento de foguetes contra território israelense. O vigia noturno morreu no ataque. Em outro bombardeio, dois integrantes do Hamas morreram ontem no campo de refugiados de Jabaliya, atingidos por mísseis disparados por um avião não tripulado de Israel que vigiava a fronteira norte de Gaza. Uma menina palestina morreu no bombardeio de sua casa. Segundo as agências de ajuda humanitária, os alimentos estão acabando e o suprimento de água potável está limitado por causa dos danos ao sistema de abastecimento. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha protestou ontem junto ao governo de Israel, pois, pelo segundo dia seguido, equipes médicas da entidade foram impedidas de entrar em Gaza, apesar de terem feito solicitação oficial há dias. Dois aviões do Ministério de Emergências da Rússia retiraram 178 pessoas de Gaza, a maioria cidadãs russas e de ex-repúblicas soviéticas casadas com palestinos. Em Israel, duas pessoas ficaram levemente feridas em explosões causadas pelos foguetes do Hamas em Ashdod. Até o início da noite, 25 foguetes Qassam e Grad caíram sobre cidades ao redor da Faixa de Gaza. Por sua vez, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, voltou a culpar o Hamas pela situação em Gaza em seu pronunciamento radiofônico de sábado. ¿ Há 18 meses que o Hamas assumiu o controle da Faixa de Gaza num golpe e desde então importou milhares de armas, foguetes e morteiros ¿ disse o presidente. Bush indicou que os Estados Unidos estão trabalhando por um novo cessar-fogo na região, mas advertiu que qualquer trégua deve ser respeitada em sua totalidade.