Título: Nas estradas, uma guerra diária
Autor: Suwwan, Leila
Fonte: O Globo, 06/01/2009, O País, p. 3
No período das festas, 435 pessoas - ou 27 por dia - morreram só nas rodovias federais.
Multas mais pesadas e a Lei Seca não foram suficientes para deter a violência nas estradas federais. No período das festas de fim de ano, houve 435 mortes, 13% a mais que no Natal e no réveillon de 2007. O número de acidentes também cresceu, e chegou a 7.140 nos 16 dias contabilizados no balanço nacional da Polícia Rodoviária Federal (PRF), uma média diária de 27 mortes. Segundo o órgão, o aumento das chuvas e do número de veículos colaborou para as ocorrências, mas a letalidade dos acidentes é culpa dos motoristas.
A PRF, responsável pela fiscalização, considera que motoristas irresponsáveis só aprendem com multas e punições, mas reconhece que é necessário investir mais em educação de trânsito, para estimular a obediência às leis e ensinar as regras das rodovias para os "motoristas de final de semana". Em 2008, o governo federal teve R$310,1 milhões para gastar nessa área, mas só aplicou 26% desse valor.
- Sempre a educação de trânsito vai ser positiva. Quanto mais investir, melhor. É preciso, por exemplo, incluir a disciplina de condução em rodovias na escolinha de trânsito. Mas, para o motorista que afronta sistematicamente as leis, a educação não vai ter efeito. Para esse, existe fiscalização, punição, multas e a restrição de conduzir - disse o inspetor Alexandre Castilho, assessor de comunicação da PRF.
A polícia flagrou mais irregularidades, com cerca de 300 mil veículos fiscalizados em cada operação de fim de ano. Os flagrantes aumentaram: foram aplicadas 19,6% mais multas desta vez. Entre 20 de dezembro de 2008 e 4 de janeiro de 2009, foram emitidas 171 mil autuações, comparado com 143 mil de 22 de dezembro de 2007 a 6 de janeiro de 2008. Das multas desta virada de ano, 58% foram por excesso de velocidade. A PRF flagrou, por exemplo, um veículo Honda a 166 quilômetros por hora na BR-116 (Rodovia Régis Bittencourt, entre São Paulo e Paraná), onde o limite de velocidade é 110 km/h.
Imprudência eleva acidentes fatais
Para explicar o aumento de mortes, a polícia citou a maior frequência das colisões frontais e a superlotação de veículos, ambos indicadores de imprudência. Na Régis Bittencourt, um Santana capotou no dia de Natal. Os seis adultos e quatro crianças que estavam no veículo acabaram no hospital. Em outro acidente, no Rio Grande do Sul, um Escort invadiu a pista contrária e bateu de frente com um caminhão - pai, mãe e quatro filhos morreram.
- É como se o condutor tivesse mais carinho pela roda de liga leve do que pela sua própria família - afirmou Castilho, para explicar a tese da PRF de que estradas piores obrigam os motoristas a ter mais cautela, o que reduziria acidentes.
- O principal elemento de segurança na rodovia é o motorista. Ele precisa saber que é o protagonista deste enredo - disse o inspetor de operações Alvarez Simões. - A pista melhor é mais perigosa justamente pela falta de educação do motorista.
A média diária de acidentes com mortes ficou em 19,7. O número de feridos chegou a 4.795, aproximadamente três feridos para cada dois acidentes. Com a maior malha rodoviária do país, Minas Gerais foi o estado recordista, com 1.411 acidentes e 89 mortos.
Em seguida vieram Santa Catarina, Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná. No Rio, foram 640 acidentes e 33 mortos no período de fim de ano.
Ainda em Minas, nas estradas sob a responsabilidade do estado, a situação não foi melhor. Pelo menos 35 pessoas morreram durante as festas de fim de ano, nos 514 acidentes registrados em rodovias estaduais. Desses acidentes, 295 aconteceram entre 24 e 29 de dezembro.
Segundo a Polícia Militar de Minas, as principais causas das batidas são falta de atenção, alta velocidade e ultrapassagens em local proibido. Mas, mesmo com o policiamento reforçado, com homens das polícias rodoviárias Federal e Estadual, não foi possível conter a violência nas estradas. A maior parte das vítimas tem entre 22 e 35 anos, de acordo com a PM.
Em algumas áreas do estado, a situação das estradas é crítica. As duas pistas da BR-267, na altura do km 29, no município de Argirita, na Zona da Mata mineira, estão interditadas por causa de um buraco no asfalto, prejudicando o trânsito. Segundo a Polícia Rodoviária Federal, o buraco tem aproximadamente 40 metros de largura e 50 centímetros de profundidade.
Pelo menos 89 trechos da malha rodoviária estadual foram danificados pelos temporais que castigaram Minas nos últimos dias. Cinco pontos estão interditados: a ponte que que dá acesso a Montes Claros; a MG-040, no trecho entre Brumadinho e Bonfim; a MG-220, entre Santo Hipólito e a BR-135; a ponte sobre o Rio Pará, na MG-252; e a MG-350, entre Pouso Alto e Virgínia.
COLABOROU: Sueli Cotta