Título: Perdas no campo
Autor: Abreu, Renato
Fonte: O Globo, 06/01/2009, Opinião, p. 7

Os economistas foram quase unânimes ao alardear o estrago que a crise global provocaria na economia mundial. Alguns países, no entanto, sentiram-se pouco ameaçados, incluindo o Brasil, visto o ritmo de crescimento que vinham tendo, com sólidas bases macroeconômicas. Passados quase três meses do início da crise, parece que estamos caindo na real. Existem soluções e diagnósticos para todos os gostos; continuar investindo no PAC, liberar compulsórios, diminuir os impostos para indústria automobilística, dentre outras.

Um setor, porém, não vem tendo a atenção devida: o agronegócio. Ele é um grande gerador de empregos e tem segurado o saldo da balança comercial brasileira, em especial o complexo grãos do Mato Grosso. Historicamente existe uma enorme reação por parte de setores da sociedade pouco esclarecida contra os produtores rurais. São taxados de chorões, aproveitadores, destruidores do meio ambiente, etc.

É óbvio que existem maus produtores, felizmente uma minoria. A grande maioria é formada por empresários, que acreditam no Brasil, amam a terra e geram inúmeros empregos, segurando a inflação e mantendo o crescente saldo da nossa balança comercial. De 2001 a 2007, o saldo do setor foi de 230,6 bilhões de dólares e o do Brasil, 206 bilhões de dólares.

O Centro-Oeste, em especial Mato Grosso, que tem o maior rebanho bovino do país, 25% da soja e 50% do algodão, vive um momento de extrema dificuldade. Sua posição geográfica central, o distancia dos portos. A falta de infraestrutura (estradas, ferrovias, etc.), retiram grande parte do resultado operacional, levado até com prejuízo, como foram os dois últimos anos.

Estes pontos somados aos juros praticados no Brasil, bem como os grandes subsídios praticados pelos países desenvolvidos, quase inviabilizam o negócio. Vencer todos esses obstáculos, só mesmo o heroísmo somado ao dinamismo destes grandes homens, amantes da terra.

A competição internacional exige alto nível tecnológico e grande produtividade para superar as vantagens existentes nos outros países. Podemos citar os EUA e a Argentina, nossos principais concorrentes na soja, onde para transportar uma tonelada de soja a um porto distante 2.000 km custa 25 e 35 dólares respectivamente. No Brasil, 90 dólares.

O país não sairá desta crise se não apoiar de maneira firme e criativa o agronegócio, principal responsável pelo sucesso do Plano Real. O que depende de nós como solução de médio prazo será a melhoria da infraestrutura da região, acelerando os projetos existentes de ferrovia, estradas e hidrovias. Investir forte na produção de fertilizantes e defensivos para sair da dependência externa.

Plantar e colher nós sabemos, precisamos criar condições para competirmos em igualdade de condições com os nossos concorrentes.

RENATO ABREU é empresário.