Título: Comércio brasileiro com o mundo foi a US$371 bi
Autor: Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 06/01/2009, Economia, p. 21

Volume bate recorde, mas representa apenas 29,5% do PIB. Em outros emergentes, fica em torno de 60%.

BRASÍLIA. A queda livre do saldo comercial brasileiro em 2008 - redução de 38%, para US$24,7 bilhões - mascarou um recorde: nunca, na história recente, o país teve um comércio exterior tão ativo quanto no ano passado, representando 29,5% do Produto Interno Bruto (PIB). Somando exportações e importações, o Brasil registrou uma corrente de comércio de US$371,149 bilhões, contra US$281,266 bilhões em 2007 (alta de 31,96%). Isso significa que o país se abriu mais para as transações com o mundo. O desafio, afirmam especialistas, é expandir ainda mais este número este ano em meio à retração da economia global.

O salto na corrente de comércio foi proporcionado pela expansão forte das importações, que aumentaram 43,6%, para US$173,207 bilhões, e para o avanço das exportações, mais modesto, de 23,1% (US$197,942 bilhões).

- Talvez na década de 50 o Brasil tenha registrado uma abertura comercial um pouco maior, mas naquela época a economia nacional era, além de muito menor, predominantemente rural - disse José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), que fez o cálculo.

Este ano, corrente pode encolher US$57 bilhões

Mesmo com este bom resultado para padrões brasileiros, o país está aquém da maior parte dos mercados. De acordo com a Organização Mundial de Comércio (OMC), o México, beneficiado pela proximidade com os EUA, movimenta no exterior o equivalente a 60% de seu PIB. No Chile, esse percentual é de 50% e, na Holanda, de 80%.

- Só a China exporta 23% do seu PIB - disse Castro.

Ele acredita que a corrente pode ser reduzida em até US$35 bilhões. Felipe Salto, da Tendências Consultoria, estima perda de US$57 bilhões:

- O impacto no superávit será pequeno. Passará para US$21,8 bilhões, especialmente por causa das importações.

Welber Barral, secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, diz que o Brasil vai fechar 2008 ganhando posições em relação à sua participação no comércio mundial.

- A abertura de 29,5% do PIB é um patamar razoável para um país grande com um mercado interno tão importante e que cresce muito rápido - afirmou Barral.

Stephanes pede R$2 bilhões para cooperativas

Ele lembrou que a corrente cresceu em 2008 o dobro da média mundial, de 15%:

- Em 2007, tivemos 1,2% das exportações mundiais e 0,8% das importações, ou seja, nossa participação no total do comércio mundial foi de 1%. Acredito que podemos fechar 2008 em até 1,3%.

Barral está otimista quanto a 2009, pois nos últimos anos os exportadores brasileiros diversificaram produtos e destinos, diminuindo o impacto se uma região ou um produto for muito afetado pela turbulência global.

Motor das exportações, a agricultura será alvo de novas medidas. Ontem, o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, pediu ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, a prorrogação do prazo para a reestruturação de R$75 bilhões em dívidas do setor agrícola (já renegociadas em 2008) e R$2 bilhões para capital de giro às cooperativas.