Título: Europa tenta ocupar váco diplomático
Autor: Malkes, Renata
Fonte: O Globo, 06/01/2009, O Mundo, p. 25

Enquanto EUA vivem transição presidencial, Sarkozy busca trégua em Israel.

PARIS. Aproveitando-se do vácuo da transição do poder nos Estados Unidos, a Europa tenta uma cartada ambiciosa: negociar uma trégua no Oriente Médio. Ontem, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, seu ministro das Relações Exteriores, Bernard Kouchner, e uma delegação europeia de alto nível sob o comando da República Tcheca ¿ que acaba de assumir a Presidência rotativa do bloco ¿ lançaram-se numa maratona de encontros, começando pelo Egito, considerado país-chave no conflito entre Israel e os palestinos, e seguindo depois para Ramallah, na Cisjordânia.

Na região, em particular em Israel, só um país ocidental consegue ter influência: os EUA. Com a crise se alastrando e a posse de Barack Obama só no dia 20, os europeus decidiram agir sozinhos. Ontem, depois de se encontrar com o presidente do Egito, Hosni Mubarak, Sarkozy foi a Ramallah, na Cisjordânia, dizer ao presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, que tentará negociar o fim da violência. Sarkozy chamou de ¿irresponsável e imperdoável¿ a ação do Hamas, que quebrou a trégua e lançou mísseis contra Israel. O Hamas reagiu imediatamente, acusando Sarkozy de ¿parcialidade total¿ a favor de Israel.

Sarkozy se disse profundamente preocupado com a situação na Faixa de Gaza e pediu um cessar-fogo ao ser recebido pelo presidente israelense, Shimon Peres.

¿ Precisamos de uma trégua humanitária de alguns dias, do interesse de todo mundo. Israel é forte, Israel tem que se arriscar pela paz ¿ disse o presidente francês.

Paralelamente, um time europeu, compostos dos ministros das Relações Exteriores da República Tcheca, França e Suécia, tentava negociar com o Egito uma fórmula para obter um cessar-fogo com os israelenses. Primeiro fracasso: o Egito se nega a ter observadores internacionais na sua fronteira, que é um ponto importante da proposta que a Europa quer apresentar para Israel. É que, segundo o governo israelense, os mísseis utilizados pelo Hamas chegaram à Gaza em túneis escavados ligando o Egito ao território palestino.

Para Philippe Moreau Defarges, especialista do Instituto Francês de Relações Internacionais (Ifri), o esforço de Sarkozy e dos europeus será em vão.

¿ A União Europeia não tem peso com nenhum dos protagonistas. Os israelenses só confiam nos americanos. Quanto aos países árabes, a UE tem um papel muito modesto.

Na ONU, árabes elaboram projeto de resolução

Além disso, lembra Defarges, a Europa está dividida em relação ao conflito. De um lado, há países que apóiam os palestinos. Enquanto que Reino Unido, Alemanha e alguns países da Europa Central se alinham mais com a posição americana, pró-Israel. Segundo o jornal israelense ¿Haaretz¿, com a Alemanha incapaz de comandar uma ação diplomática que pressione Israel, por conta do passado nazista, e o Reino Unido sem agir, abriu-se um campo para o super ativo Sarkozy tomar a dianteira.

¿ Há anos os EUA tentam a paz. Não vão ser algumas intervenções da UE que vão mudar isso ¿ garante Defarges.

O esforço europeu começou com uma trapalhada no fim-de-semana, quando um porta-voz do premier tcheco, Mirek Topolanek, declarou que a ação de Israel era ¿uma operação mais defensiva do que ofensiva¿. Uma hora depois, o Ministério de Relações Exteriores Tcheco desqualificava a declaração, ao dizer que o ¿direito de autodefesa¿ de Israel não justifica ações ¿que provocam graves sofrimentos às populações civis¿.

Em Nova York, o ministro do Exterior da ANP, Riyad al-Malki, disse que os ministros de países árabes passaram o dia ontem elaborando um projeto de resolução pedindo cessar-fogo imediato. Segundo ele, o chefe da Liga Árabe, Amr Moussa, e os ministros árabes discutirão a crise com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, e os membros permanentes do Conselho de Segurança. Abbas chega hoje a Nova York para discutir o assunto.

Com agências internacionais