Título: Egito tenta negociar cessar-fogo imediato
Autor: Malkes, Renata
Fonte: O Globo, 07/01/2009, O Mundo, p. 22

Presidente Mubarak aceita, pela primeira vez, a presença de monitores internacionais na fronteira com a Faixa de Gaza.

NOVA YORK e CAIRO. O governo do Egito propôs ontem um cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza e o início de negociações com Israel. A proposta, que incluiria a presença de monitores internacionais para verificar o fechamento dos túneis subterrâneos que ligam o Egito a Gaza, foi feita no dia em que a crescente pressão sobre Israel levou a uma nova reunião do Conselho de Segurança da ONU.

A proposta foi feita pelo presidente egípcio, Hosni Mubarak, ao lado do presidente francês, Nicolas Sarkozy, que voltou ao Egito ontem à noite depois de se reunir pessoalmente com vários líderes da região, entre eles o primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert; os presidentes da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas; da Síria, Bashar al-Assad; e o premier do Líbano, Fouad Siniora.

¿ O presidente Mubarak convida especificamente Israel para discutir a questão da segurança na fronteira sem demora ¿ disse Sarkozy. ¿ Estou convencido de que há soluções. Não estamos longe delas. O que precisamos é simplesmente que um dos atores envolvidos dê a partida para que as coisas andem na direção certa.

O anúncio foi feito pelo próprio Mubarak, que leu um comunicado ao lado de Sarkozy:

¿ O Egito convida israelenses e palestinos para uma reunião urgente.

Países árabes redigem proposta de resolução da ONU

A presença de monitores na fronteira entre o Egito e a Faixa de Gaza é uma das principais exigências de Israel para interromper o ataque. O governo egípcio, no entanto, não aceitava observadores, negando a existência de contrabando de mercadorias e armas através de túneis subterrâneos ¿ apesar de tal prática ser largamente documentada pela imprensa internacional. Os governos de França e EUA pressionaram o Egito para aceitar a entrada de especialistas em engenharia da ONU para assegurar que não há túneis em funcionamento na área.

A proposta incluiria a presença de uma força naval para impedir que contrabandistas agissem pelo mar. Os monitores trabalhariam ao lado das forças egípcias, que manteriam a soberania sobre a área fronteiriça.

Dois enviados do Hamas chegaram segunda-feira no Egito, e ontem passaram o dia em reuniões no Cairo.

Segundo o jornal israelense ¿Haaretz¿, fontes do governo confirmaram que Sarkozy propusera a iniciativa a Olmert na segunda-feira.

Mais cedo, Sarkozy estivera com Assad, o presidente sírio, em Damasco. Ele tentou convencer o governo do país ¿ que, ao lado do Irã, é a principal fonte de apoio ao Hamas ¿ a pedir ao grupo extremista que interrompa os ataques de foguetes contra o sul de Israel.

¿ A Síria deveria nos ajudar a convencer o Hamas para que escolha a voz da razão. O presidente Assad deveria nos ajudar a convencer o Hamas a parar de disparar foguetes ¿ disse Sarkozy, ao lado do líder sírio.

Assad, no entanto, se limitou a exigir que Israel pare sua ¿agressão¿ contra Gaza.

A pressão sobre Israel cresceu bastante ontem depois que duas escolas da ONU que recebiam várias centenas de civis palestino que fugiam da invasão foram atingidas com tiros de tanques.

Em Nova York, representantes de diversos países árabes se reuniram para redigir uma proposta de resolução que obrigue Israel a interromper a ação militar em Gaza. A crescente pressão internacional sobre os Estados Unidos, único país a apoiar sem condições a ação militar de Israel em Gaza, fez com que a própria secretária de Estado, Condoleezza Rice, participasse da reunião. Sean McCormack, porta-voz da diplomacia americana, disse, pela primeira vez, que os EUA querem ¿um cessar-fogo imediato¿:

¿ Gostaríamos de um cessar-fogo imediato, certamente. Um cessar-fogo imediato que seja duradouro, sustentável e sem data para acabar.

Abbas, presidente da ANP e adversário do Hamas na política palestina, participou das negociações.

O premier Olmert afirmou ontem que discussões sobre um cessar-fogo não deveriam ocorrer agora. E criticou a comunidade internacional por estar contra a invasão de Gaza:

¿ Este é o momento para ação, não para palavras. Estamos fartos de gestos vazios.

Obama diz que, depois da posse, tentará resolver conflito

A embaixadora de Israel na ONU, Gabriela Shalev, disse que seu país não consideraria obrigatório respeitar uma resolução que exigisse uma trégua.

Ontem, o presidente eleito, Barack Obama, fez suas mais claras declarações sobre o conflito, afirmando estar ¿profundamente preocupado¿ com a morte de civis. E rebateu as críticas que vem recebendo pelo seu silêncio na crise:

¿ Após 20 de janeiro (dia da sua posse) terei muito a dizer sobre o assunto. E não voltarei atrás em tudo o que disse durante a campanha, de que começando no início do governo nos engajaremos de forma eficaz a consistente na tentativa de resolver o conflito no Oriente Médio.