Título: Diplomacia barulhenta, mas ineficaz
Autor: Malkes, Renata
Fonte: O Globo, 07/01/2009, O Mundo, p. 22

As circunstâncias mudam, assim como seus protagonistas. As negociações de paz vêm e vão, e os detalhes dos acordos também. Mas, no fim, um aspecto do conflito permanece o mesmo: quando tudo fracassa, podem ter certeza de que alguém, em algum lugar, vai emitir uma declaração clamando pela paz.

Dia após dia, essas declarações têm sido acompanhadas por uma migração em massa de políticos para o Oriente Médio. O presidente da França, Nicolas Sarkozy, partiu para Israel. O mesmo fez Karel Schwarzenberg, o ministro das Relações Exteriores da República Tcheca, país que ocupa agora a Presidência rotativa da União Europeia. Lá, ambos devem encontrar Javier Solana, Tony Blair e sabe-se lá quem mais. Até o presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, mandou um enviado.

Como ter um time olímpico que ganha pilhas de medalhas de ouro, ter uma política própria para o Oriente Médio se tornou, parece, sinal de prestígio internacional.

Mas, além de prestígio, é cada vez mais difícil identificar qual é o propósito desses gestos. No Oriente Médio, as iniciativas diplomáticas mais significativas e bem-sucedidas foram as mais silenciosas: o Acordo de Oslo em 1993 foi, pelo menos em sua fase inicial, negociado em absoluto segredo.

Por outro lado, as iniciativas diplomáticas mais claramente voltadas a atender os interesses de diplomatas são as mais alardeadas e públicas: lembrem da Conferência de Annapolis em 2007, com muitas câmeras, taças brindando e todo tipo de gente de papel secundário à mesa. Seria dar muito crédito àquela reunião culpar Annapolis pela invasão por terra de Israel a Gaza na semana passada. Porém, é absolutamente justo dizer que aquela conferência ¿ apesar de toda sua pompa e circunstância ¿ fracassou na prevenção de uma nova explosão de violência.

Para complicar todos os esforços de paz, conferências de paz, iniciativas de paz e propostas de paz está o fato de que nenhuma delas reconhece o fato mais óbvio sobre o conflito palestino-israelense: não é um processo de paz, é uma guerra. No momento, pelo menos, ambos os lados estão convencidos de que seus objetivos serão atingidos de forma mais efetiva através de armas e táticas militares do que por qualquer tipo de negociação.

Intervenções ¿ mesmo que por bem-intencionados delegados da ONU, europeus ou enviados da Rússia (ou mesmo Condoleezza Rice, que sabiamente ficou em casa até agora) ¿ podem postergar o conflito, mas não terminar com a guerra, pelo menos não até que um lado se renda.

ANNE APPLEBAUM é colunista do "Washington Post"