Título: Grampo: investigação é arquivada
Autor: Éboli, Evandro; Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 20/12/2008, O País, p. 12

Não foram encontrados indícios de participação da Abin em suposta escuta nos telefones de Gilmar

Evandro Éboli e Jailton de Carvalho

BRASÍLIA. A comissão de sindicância do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) concluiu que não há indícios de envolvimento de agentes de Agência Brasileira de Inteligência (Abin) no suposto grampo nos telefones do presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes. A comissão informou que nem sequer encontrou indícios da realização das escutas por servidores da Abin que atuaram na Operação Satiagraha. As conclusões foram aceitas pelo general Jorge Armando Félix, ministro-chefe do GSI, e a investigação acabou arquivada.

Em nota, o GSI afirmou que 84 servidores prestaram depoimento, entre eles os arapongas que participaram da Satiagraha. A nota diz que se concluiu que a Abin não tem equipamento de varredura capaz de realizar escutas em sistemas que utilizam tecnologia digital.

"(...) Inexistem, até o momento, notícias que apontem nomes de servidores da Abin como suspeitos", diz a nota. Para o GSI, o episódio causou "comprometimento da imagem e credibilidade" da Abin. O caso pôs em xeque a operação que resultou na prisão do banqueiro Daniel Dantas, do ex-prefeito Celso Pitta e do investidor Naji Nahas.

No balanço que fez ontem dos trabalhos de 2008, Gilmar Mendes afirmou ter sido acertada a crítica que fez à "espetacularização" das ações da PF. Ele julga ser o responsável pela mudança de postura da PF nas operações, que, após suas declarações, teriam passado a preservar mais os envolvidos.

- Infelizmente, não errei quando apontei que o estado policial era muito mais grave ou pior do que imaginara. Essa mistura de Abin com Polícia Federal, não sabíamos disso, mas havia um tal descontrole nessa seara. Constitui uma verdadeira ameaça à cidadania, criando aí um super-sistema de forma anárquica. São fatos extremamente graves de desvio das duas instituições - disse Gilmar, referindo-se à utilização de agentes da Abin na Satiagraha.

Ao ser perguntado se a PF mudou, Gilmar respondeu:

- Tenho impressão que mudou. E não recuso os méritos.

O ministro da Justiça, Tarso Genro, contestou Gilmar. Para ele, as mudanças são resultado de estudos do próprio governo e não de críticas externas:

- Nossa conduta não foi motivada por críticas de nenhum poder. São críticas que respeitamos. Mas as mudanças que estamos realizando aqui, quer no Pronasci, quer na Polícia Federal, são mudanças programáticas e conceituais nossas.

oglobo.com.br/pais