Título: Mudanças na saúde
Autor: Côrtes, Sérgio
Fonte: O Globo, 23/12/2008, Opinião, p. 7

O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, citou na sua posse, como um dos seus desafios, ter que decifrar a esfinge da saúde do Rio de Janeiro. Especialistas, sanitaristas, pesquisadores são unânimes em identificar a baixíssima cobertura de atenção básica como uma das principais causas desse precário sistema no Rio. A atenção integral à saúde do indivíduo é composta por várias formas de atendimento, desde a promoção à saúde até a saúde altamente especializada, como a realização de transplantes.

No sistema considerado ideal, temos as equipes de saúde da família e as unidades básicas como o local adequado para a população ter acesso aos serviços. Nos casos de pequenas e médias urgências, como uma crise asmática em uma criança na madrugada, o local apropriado para o socorro são as Unidades de Pronto Atendimento - UPAs 24horas. Os casos que necessitem de um procedimento mais complexo deverão ser removidos pela ambulância do Samu para o hospital de referência.

Também deverão ser transferidos para esses hospitais de emergência os casos graves, como acidentes de trânsito com politraumatismos, vítimas de violência com armas brancas e de fogo e atropelamento. A Secretaria estadual de Saúde e a Defesa Civil do Rio, como indutora do fortalecimento da atenção básica, criaram programa de estímulo financeiro, repassando 53 milhões de reais anualmente para a criação, manutenção e ampliação das equipes de saúde da família e assistência farmacêutica básica dos municípios.

A baixa oferta de atenção básica associada à ausência de Unidades de Pronto Atendimento na capital e parte da Região Metropolitana resultam na procura quase que exclusivamente das emergências dos hospitais - misturando pacientes graves, com necessidade de atendimento imediato, a pacientes com baixa gravidade como estados gripais, alergias, entorses e outros.

Em nenhum momento a implantação das UPAs 24 horas teve o objetivo de substituir a atenção básica. Pelo contrário. Não era possível assistir ao cenário de crianças com crise asmática, em longas filas, disputando atendimento com um politraumatizado na emergência de um hospital ou até mesmo uma mãe, aguardando o sol raiar ao relento, para poder conseguir uma senha no posto de saúde.

Os números dos atendimentos nas 20 UPAs são incontestes. Mais de um milhão de pessoas atendidas, média de 500 pacientes por dia em cada UPA. Milhões de exames laboratoriais, com resultado imediato, realizados. Milhões de medicamentos distribuídos para o tratamento das doenças agudas. E, em associação com o Instituto Nacional de Cardiologia e o Instituto Estadual de Cardiologia, o atendimento de pacientes com dor torácica passou a ter garantia da utilização do medicamento trombolítico imediato e a transferência para realização do cateterismo cardíaco em uma unidade especializada, com a conseqüente diminuição de 50% da mortalidade desses pacientes.

Todas essas medidas, do governo do estado em parceria com o governo federal, têm como meta o zelo e a atenção com a saúde da nossa população, que certamente merece esse respeito.

SÉRGIO CÔRTES é secretário de Saúde do Estado do Rio.