Título: Integrante da Frente ataca Temporão
Autor: Lima, Maria
Fonte: O Globo, 21/12/2008, O País, p. 9

Deputado diz que ministro será primeiro convocado de CPI

BRASÍLIA. O principal líder do movimento contra o aborto, o deputado Miguel Martini (PHS-MG), membro da Frente Parlamentar pela Vida, é tachado de "fundamentalista e obscurantista" pelos opositores da CPI. Ele está com o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, na mira. Martini diz que o ministro será o primeiro a ser convidado a depor para explicar suas "teses abortistas" e medidas que atentam contra a vida.

- O tempo inteiro o ministro vem agindo contra a vida e mente quando diz que aborto é questão de saúde pública. O que faz de concreto é uma portaria para permitir cirurgia de troca de sexo pelo SUS, cirurgia de alongamento das cordas vocais para afinar a voz e aplicação de hormônios. Remédio para oncologia pelo SUS não tem. O ministro Temporão está a serviço dos laboratórios estrangeiros que querem vender abortivos e da indústria de equipamentos para fazer aborto - acusa Martini.

"Podemos chegar ao limite máximo da obstrução"

Não é só o ministro Temporão que ele ataca. Martini diz que de nada adiantará a resistência de "abortistas" como os petistas Cida Diogo (RJ) e José Genoino (SP), que ele cita nominalmente.

- Temos um respaldo muito grande de partidos favoráveis à vida. E o regimento está a nosso favor. Essa resistência é uma ilusão. Se os líderes não indicaram os integrantes para a CPI, o presidente tem que indicar. E, se não indicar, podemos chegar ao limite máximo da obstrução, e não deixar votar nada na Câmara - ameaça Martini, dizendo que tem o apoio de quase 250 deputados na Casa.

Temporão evita confronto e apresenta dados

O ministro Temporão, que tem a seu favor o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na tese de que o aborto é uma questão de saúde pública, se nega a bater boca com Martini, que o ataca duramente. Temporão, por meio de sua assessoria, diz que 686 mulheres são internadas pelo SUS a cada dia, em decorrência de complicações relacionadas ao aborto.

Em 2006, 250.447 mulheres foram internadas, representando mais de quatro abortos para cada mil mulheres em idade fértil. Segundo o ministro, os abortos contribuem com 15% da mortalidade materna.

"A prática do aborto inseguro evidencia diferenças socioeconômicas, culturais, étnico-raciais e regionais. O Ministério da Saúde defende o amplo debate para que a sociedade encontre soluções para enfrentar essas mortes e a melhoria da informação para a população", diz a nota do Ministério da Saúde. (Maria Lima)