Título: Emprego formal tem 1ª queda no governo Lula
Autor: Tavares, Mônica
Fonte: O Globo, 23/12/2008, Economia, p. 23

Indústria lidera demissões, com corte de 80 mil. Agricultura dispensa mais de 50 mil. Comércio e serviços contratam.

BRASÍLIA. A crise econômica internacional interrompeu um dos mais longos ciclos de geração de empregos com carteira da história recente do Brasil. Desconsiderando-se os meses de dezembro, que sempre registram saldo negativo de vagas devido à dispensa de temporários, em novembro deste ano foram fechadas 40.821 vagas formais, no primeiro saldo líquido de demissões desde novembro de 2002 (11.751) e, portanto, do governo Luiz Inácio Lula da Silva. O principal responsável pelo resultado foi a indústria.

Os números são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho. O parque industrial fechou 80.789 postos com carteira assinada no mês passado, principalmente nas áreas de produtos alimentícios, material de transporte, metalurgia e calçados. O desempenho do mercado de trabalho só não foi pior porque, devido às férias e às festas de fim de ano, o comércio e o setor de serviços contrataram.

- É sinal de dificuldades para 2009. Se tudo tivesse corrido normalmente, teríamos um número positivo em novembro. Vínhamos num ciclo excepcional. Pena que acabou - sintetiza João Sabóia, professor da UFRJ.

Com entressafras de café, cana e uva, a agricultura dispensou 50.522 trabalhadores. A construção civil, até então vedete, pôs na rua 22.731 pessoas. Os setores de comércio - com abertura de 77.876 empregos - e de serviços - com 39.298 - atenuaram o impacto da crise. O país tem hoje 31,07 milhões de trabalhadores com carteira.

As nove regiões metropolitanas sistematizadas pelo Caged, com abertura de 32.076 novos postos, tiveram desempenho superior ao do interior, que demitiu 56.675. Por isso, sofreram mais os estados com forte presença do interior na economia. Caso de Minas Gerais, com demissões líquidas de 33.921 pessoas, e de São Paulo, com dispensa de 20.884.

Projeção para 2009 cai para 1,5 milhão de vagas

Já o Estado do Rio foi favorecido pelo peso do turismo e do comércio. Foram abertas 17.547 vagas - a região metropolitana sozinha criou 15.353 postos.

No ano, 2,1 milhões de postos com carteira foram abertos no país. Para o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, o número de empregos formais criados em 2008 ficará entre 1,85 milhão e 1,95 milhão, já que dezembro é mês de cortes. Para 2009, a projeção, que já foi de 1,8 milhão vagas novas, caiu para 1,5 milhão. Sobre o pedido de empresários para flexibilizar as leis trabalhistas, disse:

- Os empresários, quando estavam ganhando, não chamaram os trabalhadores para dividir. Então, não é o caminho.

Professor da Unicamp, Cláudio Dedecca, receita políticas públicas para evitar o pior. Nesse caminho que o governo já começou a trilhar, a recuperação começará a partir do segundo trimestre, diz. E, se houver crescimento de 3%, a geração de 1,2 milhão empregos é garantida.