Título: Tentativa de pacificar a base
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 20/03/2009, Política, p. 04

Senadores da base aliada do governo no Congresso fecharam um acordo para tentar pacificar o Senado. Numa conversa tensa, marcada por trocas de acusações, bate-boca e lavação de roupa suja, líderes de três partidos reunidos com o ministro de Relações Institucionais, José Múcio, prometeram estancar os vazamentos de denúncias, retomar as votações e dar apoio às medidas administrativas lançadas pelo presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).

O primeiro passo para o cumprimento do pacto e a retomada da normalidade na Casa é a compensação da senadora Ideli Salvatti (PT-SC) com a liderança do governo no Congresso, cargo ocupado atualmente pela senadora Roseana Sarney (PMDB-MA). A petista perdeu a presidência da Comissão de Infraestrutura para Fernando Collor de Mello (PTB-AL) graças a uma articulação dos peemedebistas.

Compareceram à reunião numa sala reservada do restaurante Cello, em Brasília, o líder Aloizio Mercandante (SP), e Ideli, pelo PT; os líderes Renan Calheiros (AL) e Romero Jucá (RR), pelo PMDB. E no meio de campo, dois petebistas: José Múcio e o líder Gim Argello (DF). O encontro marcou o encerramento de um dia explosivo cujo centro foi o senador petista Tião Viana (AC), que saiu do sério com o vazamento da informação de que emprestara um celular do Senado para que sua filha usasse durante uma viagem de férias ao México. Culpou o presidente José Sarney e seus aliados e ameaçou ¿botar fogo no Senado¿, com uma nova onda de denúncias. Adversários ensaiaram jogar mais denúncias contra Tião, como seus gastos com saúde.

A reunião da noite foi uma iniciativa do ministro Múcio, que havia notado durante o dia que o clima no Senado parecia uma panela de pressão prestes a explodir. No restaurante, o tom ríspido continuou. Mercadante lamentou o episódio envolvendo a família de Tião, Renan e Jucá lembraram que a família de Sarney também está no centro do furacão. ¿Foram horas de lavação de roupa suja¿, descreveu um dos presentes. Múcio mais diplomático pediu aos colegas que olhassem para frente e esquecessem o passado.

Formalidade Ideli negou o acordo para colocá-la na liderança do Congresso, enfatizando que a escolha do cargo cabe ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e não pode sair de um acordo entre senadores. Mas todo mundo já sabe que o PMDB abriu mão de ocupar o cargo e a indicação do presidente da República é uma mera formalidade. Basta a formalização da saída de Roseana, seja para o governo do Maranhão ou para se submeter a uma nova cirurgia. ¿Para o bem do Senado é preciso pacificar, precisamos voltar a legislar . O que me motivou a ir nessa reunião é pôr ordem na Casa¿, disse Ideli.

Depois do clima beligerante, os senadores abriram espaço para debater propostas e entrou em pauta a decisão do presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), de alterar as votações de medidas provisórias. Ficou acertado que Renan buscará uma proposta alternativa. O objetivo é evitar que mais uma vez o Supremo Tribunal Federal (STF) dê a palavra sobre uma questão de tramitação de propostas legislativas. ¿Defendi que seria melhor votar uma emenda constitucional com as mudanças na tramitação das MPs e não deixar o Supremo legislar¿, afirmou a petista.

A discussão sobre o rito das medidas provisórias é uma tentativa de colocar o Senado no centro do debate que envolve uma agenda positiva, já que a Câmara não se contaminou pela crise da Casa ao lado. Na próxima terça-feira, haverá um outro gesto público. Os líderes governistas vão se reunir com Sarney para formalizar o apoio ao projeto de reforma administrativa do Congresso. Nos bastidores, continua a cobrança para o governo participar mais ativamente das articulações do Senado. Há um incômodo que ronda os senadores sobre Múcio. Eles dizem que o ministro se ocupa mais dos afazeres dos deputados.