Título: Número dois da PF é afastado definitivamente
Autor: Franco, Bernardo Mello
Fonte: O Globo, 31/12/2008, O País, p. 9
Após a saída de Lacerda, que ganhou posto em Portugal, também são exonerados dois auxiliares dele na Abin.
BRASÍLIA. O governo aproveitou as folgas do fim de ano para demitir dirigentes envolvidos em escândalos nos seus principais órgãos de investigação. Depois da queda de Paulo Lacerda do comando da Abin, ontem foi a vez do delegado Romero Menezes, da Polícia Federal. Acusado de vazar informações sigilosas da Operação Toque de Midas, ele foi retirado definitivamente do cargo de diretor-executivo, o segundo na hierarquia da instituição, do qual estava afastado temporariamente desde setembro. Em seu lugar, assume o delegado Luiz Pontel, que chefiava a divisão de Gestão de Pessoal da PF.
Assim como Paulo Lacerda, Romero Menezes é alvo de investigações ainda em andamento. Ele responde a um inquérito e a um processo disciplinar que correm em sigilo na Corregedoria Geral da Polícia Federal. A situação do delegado se complicou no mês passado, quando a Justiça Federal do Amapá aceitou a denúncia do Ministério Público Federal e abriu ação penal contra ele por quebra de sigilo funcional e concussão (uso do cargo público para obter vantagem indevida).
Delegado foi preso por Corrêa na sede da PF
Numa situação inédita na história da PF, Romero foi preso em 16 de setembro na sede da instituição, em Brasília, após ser alvo de escutas durante 20 dias em seu gabinete. A voz de prisão foi dada pelo próprio diretor-geral do órgão, Luiz Fernando Corrêa, mas o delegado foi solto na madrugada do dia seguinte graças a um habeas corpus.
De acordo com o Ministério Público, Romero vazou informações confidenciais da operação que apura supostas fraudes cometidas pela mineradora MMX, do empresário Eike Batista, na licitação de uma estrada de ferro no Amapá. O irmão do delegado, José Gomes de Menezes Júnior, prestava serviços de segurança e limpeza à mineradora e também chegou a ser preso. Por causa do suposto vazamento, a superintendência da PF no Amapá foi obrigada a antecipar a operação, que prendeu funcionários de alto escalão do governo do estado e cumpriu mandados de busca e apreensão na casa e no escritório de Eike no Rio.
No dia seguinte à sua prisão, o delegado exonerado recebeu a solidariedade do ministro da Justiça, Tarso Genro, que classificou sua prisão de desnecessária. Internamente, Romero disse ter sido alvo de perseguição por discordar de decisões do superintendente da PF no Amapá, Anderson Rui Fontel. A direção da PF determinou a transferência do caso para Brasília, mas Fontel continua em seu cargo. Ontem, a PF informou que a Corregedoria e Romero não comentariam a exoneração.
Lacerda será adido em Portugal por dois anos
Ontem, foi oficializado o afastamento de Lacerda e de seus assessores mais próximos na Abin. Além do delegado, deixam a cúpula da agência o diretor-adjunto José Milton Campana, o assessor especial Renato da Porciúncula e o diretor de Contra-Inteligência, Paulo Maurício Fortunato.
O governo publicou edição extra do Diário Oficial para informar a queda de Lacerda e sua nomeação para o cargo de adido policial da Embaixada do Brasil em Portugal, criado para ele, pelo período de dois anos. O ato foi assinado pelo ministro interino da Justiça, Luiz Paulo Barreto, e pelo secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores, Samuel Pinheiro Guimarães, que substitui o o ministro Celso Amorim, em férias, no comando do Itamaraty.
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