Título: Prêmio de consolação
Autor: Franco, Bernardo Mello
Fonte: O Globo, 30/12/2008, O País, p. 3

Ele investigou PC, teve auge no governo Lula e agora, afastado, ganha cargo

BRASÍLIA. Delegado aposentado, Paulo Fernando da Costa Lacerda ganhou notoriedade ao conduzir as investigações do chamado Esquema PC, na década de 90. Indicado em 1992 para investigar Paulo Cesar Farias, o então tesoureiro de campanha do ex-presidente Fernando Collor de Mello, Lacerda montou um núcleo de apuração das irregularidades que deu origem à atual estrutura da Polícia Federal de combate ao crime organizado.

O delegado só assumiu a direção da Polícia Federal no início do governo Lula, em 2003. Chegou ao posto depois de recusar convites feitos pelos ex-presidentes Itamar Franco e Fernando Henrique.

Ao assumir a função, Lacerda prometeu combater a corrupção dentro da própria Polícia Federal. Na sua gestão, foi montado o modelo das grandes operações que levaram à prisão políticos, empresários e servidores públicos. O mesmo sistema acabou sofrendo críticas por expor excessivamente os investigados. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) apelou ao então ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que recomendou moderação à PF.

As megaoperações viraram propaganda eleitoral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando ele se candidatou à reeleição, em 2006, numa tentativa de mostrar que o governo, à época envolvido no escândalo do mensalão, atuava para combater a corrupção.

Com a saída de Márcio Thomaz Bastos do Ministério da Justiça e a nomeação de Tarso Genro para o cargo, Paulo Lacerda foi transferido para o comando da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). No novo posto, não conseguiu se entender com seu sucessor na Polícia Federal, o delegado Luiz Fernando Corrêa. Os desentendimentos entre os dois ficaram evidentes na Operação Satiagraha, quando Lacerda, sem o conhecimento de Corrêa, colocou dezenas de agentes da Abin para ajudar o delegado Protógenes Queiroz a investigar supostos crimes financeiros do banqueiro Daniel Dantas. Lacerda foi afastado da Abin depois que vieram a público denúncias de que o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, fora grampeado. Seria um afastamento temporário, que ontem tornou-se definitivo. Mas com o "prêmio de consolação", como se comenta na PF, de um cargo bem remunerado em Portugal.