Título: BC: medida pode injetar R$40 bi
Autor: Rangel, Juliana
Fonte: O Globo, 31/12/2008, Economia, p. 21

Regra muda para bancos terem mais capacidade de conceder crédito.

BRASÍLIA. O Banco Central (BC) anunciou ontem mais uma medida para melhorar a liquidez no mercado de crédito, com potencial de injetar cerca de R$40 bilhões na economia. A autoridade monetária fez mudanças nas provisões adicionais que são feitas nas operações de créditos, inclusive leasing.

A medida, que foi corroborada em uma reunião extraordinária do Conselho Monetário Nacional (CMN) ontem, permite que o valor da provisão adicional de uma instituição financeira não influencie a apuração de seu patrimônio de referência. Na prática, isso pode melhorar a capacidade de realizar operações de crédito, já que, quanto maior for o patrimônio, mais recursos podem ser utilizados para emprestar. Até agora, a provisão adicional era descontada do patrimônio de referência.

Para alguns especialistas, esse novo fôlego não significa que os bancos vão emprestar mais de uma hora para outra. O professor do Ibmec-SP Domingos Pandeló Júnior, por exemplo, afirma que o mercado continua restrito por causa da crise financeira internacional.

- É preciso ter cautela na hora de emprestar e ver a disposição dos bancos - afirmou.

Segundo dados do Banco Central (BC), a provisão total de empréstimos no sistema financeiro estava em R$63 bilhões em novembro. Em provisão adicional, eram pouco mais de R$4,5 bilhões. Como esse valor poderá entrar no cálculo do patrimônio de referência dos bancos, o potencial de empréstimos a mais chega próximo a R$40 bilhões. Isso porque, como lembrou Pandeló Júnior, a alavancagem de empréstimos é de até oito vezes, aproximadamente. Ou seja, para cada um real de patrimônio, o banco pode oferecer de crédito R$8.

BB, com capacidade no limite, deve ser o maior beneficiado

Na opinião de fontes do setor privado, as medidas anunciadas ontem podem ajudar sobretudo o Banco do Brasil (BB), que vem sendo pressionado pelo próprio governo para aumentar a concessão de crédito neste momento de liquidez menor. O maior banco público do país já estava com sua capacidade de empréstimo próxima do limite, considerando-se o índice de Basiléia - que limita justamente o índice de alavancagem dos bancos em relação ao seu patrimônio de referência. No Brasil, ele é de 11% e, em setembro, o BB tinha 13,6%. No geral, as instituições financeiras no país mantêm cerca de 16%.

Com a compra da Nossa Caixa, essa margem no BB deveria cair ainda mais. Em meados deste mês, o CMN já havia tomado outras medidas que mudavam as regras contábeis de crédito tributário e que melhoraram o indicador para o setor, inclusive para o BB. O banco, na época, calculou que o seu índice de Basiléia poderia ultrapassar os 15%.

O papel do BB na recuperação do mercado de crédito segue determinação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que fez um apelo aos bancos públicos para concederem mais empréstimos a fim de enfrentar a crise global. A ordem de Lula também vale para Caixa e BNDES.

FUNDO SOBERANO CONTRIBUIRÁ PARA DÉFICIT FISCAL EM DEZEMBRO, na página 22