Título: Vamos nos preparar para a queda
Autor: Lima, Maria; Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 01/01/2009, O País, p. 3

Prefeito de São Paulo diz que compensará perda de arrecadação com novas receitas

Nem a crise econômica mundial faz o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), adotar o tom fatalista, embora ele se mostre preocupado. Assumindo o papel de cabo eleitoral do governador tucano José Serra para a sucessão do presidente Lula, Kassab diz que trabalhará por um plano de compensação, evitando novas despesas. Em seu apartamento, de frente para um dos mais caros shoppings da cidade - lotado às vésperas da virada do ano -, Kassab diz que não é consumista. E, diante da turbulência dos mercados, sabe que a segunda gestão não será o mar de rosas dos últimos quatros anos: "Vamos nos preparar para a queda (de arrecadação)".

Flávio Freire

Como São Paulo se prepara para enfrentar a crise econômica neste ano?

GILBERTO KASSAB: Nossas receitas não diminuíram, mas poderão diminuir. Os repasses dos governos estadual e federal com certeza vão sofrer queda. O governo do estado informou que está caindo o ICMS. O governo federal já informou que caiu a arrecadação. Nosso esforço vai ser para compensar a queda com novas receitas. O bom senso e a prudência mandam que nos preparemos para a queda. No início do ano vamos congelar o orçamento (aprovado em R$27,5 milhões) para não termos surpresas.

Novas receitas significam novos impostos?

KASSAB: Não, nenhum novo imposto. Teremos novas operações urbanas, um mecanismo de contribuição para o Tesouro mediante autorização de construção acima do estabelecido no zoneamento urbano. Existe expectativa de criar novas operações e, com isso, induzir novos investimentos. A operação, por si só, traz recurso para o Tesouro. Construindo mais, são mais emprego e receita. Só a operação da Avenida Luiz Carlos Berrini, na última gestão, gerou R$600 milhões. Isso pode compensar a queda da receita. Mas vamos nos preparar para a queda.

Há possibilidade de o senhor descumprir a promessa de não aumentar a tarifa de ônibus?

KASSAB: Não vamos aumentar a tarifa, que é a mais barata do Brasil. Se tiver cortes, não será no social. Social significa principalmente saúde, educação e transporte. Não serão (os cortes) em serviços, mas em investimentos. Mas não vamos discutir agora cortes porque o esforço vai ser o da compensação.

Há alguma conversa com o governo federal para tentar aplacar esse problema?

KASSAB: Não. Vamos ter que criar novas fontes aqui na cidade mesmo. O governo federal terá seus problemas com a queda de arrecadação.

O senhor prevê uma gestão mais difícil?

KASSAB: Administrar São Paulo é difícil. É uma cidade de 11 milhões de habitantes e orçamento insuficiente. Tem a dimensão de Nova York e orçamento quatro vezes menor, sendo que NY resolveu problemas de infra-estrutura. A administração de São Paulo é um grande desafio.

Está pronto para 2010?

KASSAB: O que sei é que vem depois de 2009 (risos).

Será candidato a governador?

KASSAB: Posso lhe afirmar que não sou candidato.

O que o faria mudar de idéia?

KASSAB: Nada.

Não perderia uma chance, já que vem de uma campanha vitoriosa?

KASSAB: Não perderia porque não poderei ser. Tenho o compromisso de governar por quatro anos.

Está pronto para trabalhar por José Serra ou Aécio Neves na disputa presidencial?

KASSAB: Pela aliança. Tenho respeito pelo Aécio e certeza de que será presidente da República um dia. É inteligente, bem preparado. Tenho respeito por sua postulação. Se ele postular, o PSDB terá mecanismos para saber quem será o candidato. Mas minha opinião é que Serra está mais bem preparado. A hora é do Serra.

Serra pode ter problemas como em 2006, quando perdeu a indicação para Geraldo Alckmin?

KASSAB: Eram circunstâncias diferentes. O presidente poderia ser reeleito. Ele agora agregou uma boa gestão como prefeito e governador. O que puder fazer para ajudá-lo, farei.

A aliança corre risco por causa das duas candidaturas em São Paulo (Alckmin e Kassab)?

KASSAB: Não. Os líderes do partido já se manifestaram pelo apoio a Serra.

A que atribui sua vitória?

KASSAB: À soma de um conjunto de ações.

O que inclui a rejeição ao PT?

KASSAB: Não diria rejeição, mas a péssima gestão do PT.