Título: Receita de Ano Novo contra crise
Autor: Lima, Maria; Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 01/01/2009, O País, p. 3
Novos prefeitos assumem hoje o desafio de administrar num cenário econômico adverso
Maria Lima e Chico de Gois
Ajustes de caixa, auditorias, rombos no orçamento, pacotes de corte de gastos. O cenário de aperto provocado pela crise financeira global assusta, mas não desanima os prefeitos que assumem hoje. Cada um tem um desafio diferente e uma receita para driblar o aperto que se anuncia ainda maior em 2009. Resultado de uma delicada e insólita aliança entre o PSDB do governador Aécio Neves e o PT do ex-prefeito Fernando Pimentel, o socialista Márcio Lacerda (PSB) é um dos mais animados. O quadro da prefeitura de Belo Horizonte foge à regra e é um dos mais promissores. Ele diz que recebe as contas arrumadas e fará uma gestão de continuidade.
- Antes de março é temerário fazer previsão segura do impacto da crise na administração. Retração não haverá. O crescimento não vai ser de 5%, mas também não será de 2%. Um dos desafios é fazer desse crescimento o maior possível, de 3%, 3,5% - disse Lacerda, avaliando que as demissões no setor de mineração, como as da Vale, têm pequeno impacto no nível de emprego, que já é alto em Belo Horizonte.
Seu maior desafio, o político, também parece bem encaminhado, já que muitos petistas da ala do partido contrária à aliança permanecerão na administração. E caberá ao PT também o "filé" da prefeitura: as secretarias de Planejamento, Serviços Sociais e a de Obras e Infra-Estrutura. O PSDB de Aécio, segundo ele, só pediu a secretaria de Saúde.
- A prioridade da gestão é resolver o grave problema de transporte e trânsito. Isso, somado, supera os problemas que temos com saúde e educação ou segurança. O trânsito depende muito de obras para desafogar o Centro da cidade, que está caótico, criando vias alternativas - diz Lacerda, confiante nos repasses do PAC para tocar a obra do metrô na capital.
Para alguns, as dificuldades são maiores. É o caso do prefeito de Manaus, o ex-governador Amazonino Mendes (PTB), cujo maior desafio será garantir a posse e a manutenção no cargo. Amazonino teve o registro da candidatura impugnado pelo TRE, no mês passado, por acusação de compra de votos e distribuição de propaganda eleitoral fora de época. Mas conseguiu liminar na Justiça garantindo a diplomação e a posse. O mérito da questão será julgado.
Como todos os gestores que assumem hoje, Amazonino terá que administrar os efeitos negativos da crise em Manaus. A cidade vive basicamente dos empregos da Zona Franca, e ele calcula que a arrecadação do município sofrerá redução de R$100 milhões a R$120 milhões em 2009. A capacidade de investimento da cidade está zerada. Hoje, a prefeitura conta com 36 secretarias municipais, autarquias e empresas públicas. Sua idéia é reduzi-las à metade.
- Organização e ajuste são as palavras de ordem - disse.
"Vamos fazer desse limão uma limonada", diz Micarla
Celebridade da TV local, o fenômeno eleitoral Micarla de Souza, do PV, assume a prefeitura de Natal com metas audaciosas. Enquanto os eleitos fazem malabarismos para driblar a crise global, a novata comemora: o dólar alto e os caros pacotes internacionais estão promovendo um boom no turismo da capital do Rio Grande do Norte. A crise, para Micarla, pode ser o diferencial para a arrancada de caixa nesses primeiros meses de sua administração. Mas ela se prepara para editar um pacote de medidas de contenção de gastos que inclui redução de cargos comissionados e revisão de contratos.
- Vamos fazer desse limão uma limonada. A crise trouxe a Natal um volume de turistas que a cidade nunca viu. E deve aumentar agora em janeiro e fevereiro - diz a prefeita eleita.
A meta número 1 é acabar com o turismo sexual e a prostituição infanto-juvenil, e melhorar a infra-estrutura turística para ultrapassar os atuais 150 mil empregos do setor na capital.
Micarla diz que herdará uma "caixa-preta" do antecessor, Carlos Eduardo Alves (PSB) e que contratará auditoria. O PV tentou suspender o repasse de R$40 milhões proveniente da venda da conta da prefeitura para o Banco do Brasil, a um mês do fim do mandato de Carlos Eduardo Alves (PSB). Ganhou em duas instâncias, mas o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, deu o aval para a liberação e o dinheiro foi gasto. O PV vai questionar na Justiça a retirada de R$23 milhões do Fundo de Previdência da prefeitura na véspera da eleição.
- Vou assumir com uma caixa-preta, sem saber o tamanho do rombo da prefeitura.
OUTROS PREFEITOS ELEITOS CONTAM COMO VÃO ADMINISTRAR EM MEIO À CRISE, na pág. 4
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