Título: Oposição critica criação de cargo para Lacerda
Autor: Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 01/01/2009, O País, p. 5

Líderes oposicionistas afirmam que ex-diretor da Abin não poderia assumir antes do fim das investigações sobre grampo

Henrique Gomes Batista

BRASÍLIA. Os partidos de oposição não viram com bons olhos a designação do delegado da Polícia Federal Paulo Lacerda para o posto de adido policial do Brasil em Portugal. Para os líderes partidários, o ex-diretor geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) não poderia assumir outro cargo público antes da conclusão das investigações sobre a participação de Lacerda em um suposto grampo telefônico de uma conversa do presidente do Superior Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes. Ele estava afastado do cargo há mais de três meses e foi exonerado no mesmo dia de sua nomeação como adido.

- Este é mais um capítulo desta história mal contada. Acho tudo muito estranho - afirmou o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE).

Para ele, a nomeação é mais uma tentativa de encobrir problemas na Polícia Federal - que já foi comandada por Lacerda - e na Abin. Ele acredita que o procedimento adotado pelo governo contraria a clareza necessária para a apuração de um fato grave, a denúncia de escuta telefônica ilegal contra um presidente de um dos poderes da República, no caso o Judiciário.

Já o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) - que também teria sido grampeado ilegalmente na conversa com Gilmar Mendes - afirma que o novo posto é uma forma de contemplar Lacerda, figura que foi fundamental na estrutura do governo, na avaliação do senador:

- Essa nomeação não deixou ao relento um homem com potencial de ser um homem-bomba.

Demóstenes diz ser necessário que a investigação desse episódio seja completa, para que fatos importantes sejam esclarecidos. Para o senador, as denúncias contra Lacerda são graves:

- As denúncias são gravíssimas, de uma relação promíscua entre a Polícia Federal e a Abin para atender a interesses escusos. No episódio do grampo do STF, o objetivo foi ajudar Daniel Dantas (do grupo Opportunity, investigado por sonegação e corrupção).

Para Demóstenes, é necessário elucidar tudo isso, e o papel de Lacerda na história:

- Uma coisa é muito clara: se Lacerda não serve para comandar a Abin, não serve para representar o Brasil no exterior.

Lacerda foi procurado e não foi localizado.

oglobo.com.br/pais