Título: Petrobras reduz importação de gás da Bolívia
Autor: Camarotti, Gerson; Tavares, Mônica
Fonte: O Globo, 08/01/2009, Economia, p. 24

Ministro de Minas e Energia diz que, com reservatórios das hidrelétricas cheios, não será necessária geração das térmicas

Gerson Camarotti, Mônica Tavares e Ramona Ordoñez

BRASÍLIA e RIO. O governo brasileiro reduziu de 31 milhões de metros cúbicos por dia para 19 milhões de metros cúbicos diários o volume de gás natural importado da Bolívia. Segundo o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, a medida vai vigorar até o próximo mês de abril e tem como justificativa o fato de os níveis dos reservatórios das hidrelétricas brasileiras estarem bastante elevados, o que diminui a necessidade de utilização das usinas termelétricas. A Petrobras já comunicou ao governo boliviano a medida.

- No ano passado, com a diminuição das chuvas, tínhamos mais necessidade do uso de gás. Mas, neste ano, a situação foi invertida. Os reservatórios estão cheios. Por isso, não temos mais necessidade imediata das térmicas - explicou o ministro.

Segundo ele, a diminuição de 12 milhões de metros cúbicos representará uma economia correspondente à geração de 3,5 mil megawatts (MW). Esse volume corresponde à geração da hidrelétrica de Estreito, que está em construção no Maranhão. O desligamento das usinas térmicas será comunicado oficialmente amanhã, na reunião do Conselho de Monitoramento do Setor Elétrico.

Lobão explicou ainda que, em abril, com o fim do período de chuvas, a Petrobras deve retomar o consumo maior de gás boliviano, com a retomada de operação das térmicas, inclusive, para fornecimento de energia para a Argentina. Ele descartou que a diminuição do consumo de gás esteja relacionada com eventual queda no nível de atividade econômica do país, devido à crise financeira internacional.

Desaquecimento da indústria também ajudou na decisão

Técnicos do governo e do setor privado, contudo, disseram que o desaquecimento da atividade industrial pesou na decisão. Já existe uma desaceleração natural em janeiro, que tende a ser agravada pela crise internacional.

Esses técnicos explicaram que a média mensal de 19 milhões de metros cúbicos é o mínimo que a Petrobras precisa importar da Bolívia para não pagar multa, conforme prevê o contrato de fornecimento de gás para o Brasil. A média anual é de 24 milhões de metros cúbicos. Como a medida deixará de vigorar em meados deste ano, o piso será facilmente atingido.

A Petrobras, segundo uma fonte, não gostou da decisão de reduzir a geração de suas térmicas, pois implica custos de manutenção sem geração de caixa. A estatal não quis comentar o assunto e se limitou a informar, por meio da assessoria, que a redução da compra de gás se deve ao fato de estar impedida de gerar energia elétrica no Sudeste pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).