Título: A reforma do Planalto
Autor: Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 11/01/2009, O País, p. 13
Obra vai servir para acabar com falhas funcionais do complexo da Presidência.
BRASÍLIA. A reforma do Palácio do Planalto, mais do que recuperar as características originais de um prédio de valor histórico, vai servir para resolver problemas funcionais do complexo da Presidência da República, que inclui ainda quatro edifícios anexos. A obra de maior impacto no projeto de restauração do Planalto será a construção de uma garagem subterrânea, com dois níveis e capacidade para 500 carros, sob o estacionamento aberto localizado à direita do edifício. A obra total está orçada em R$88.073.546,89 e deverá ser concluída em 360 dias, contados a partir da assinatura do contrato.
A garagem, projetada para atender os usuários do Planalto, será conectada ao prédio principal por túneis. Esse mesmo sistema interligará o Palácio aos anexos, onde ficam assessorias e a vice-presidência, por exemplo. A garagem terá rampas de acesso antiderrapantes, conforme o projeto elaborado pelo escritório do arquiteto Oscar Niemeyer, autor do prédio.
O edital da concorrência para contratação da empresa que fará a reforma foi publicado mês passado, e a etapa de habilitação das candidatas será aberta em 21 de janeiro. A intenção do governo é entregar o Palácio restaurado nas comemorações dos 50 anos de Brasília, dia 21 de abril de 2010. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, principal defensor da reforma, tem uma exigência: quer despachar pelo menos um dia no prédio reformado, antes de deixar a Presidência, em 1º de janeiro de 2011.
Lula conseguiu emplacar pelo menos uma sugestão para o quarto andar do Planalto. Ele, que já chegou a dizer que o Palácio tinha se transformado numa favela, por causa das inúmeras divisórias distribuídas pelo prédio para formar os gabinetes de ministros e assessores, quer a criação de um saguão, voltado para a Praça dos Três Poderes, com área de estar para funcionários e visitantes.
É no quarto andar que ficam os gabinetes dos ministros Dilma Rousseff (Casa Civil), Luiz Dulci (Secretaria Geral), Jorge Félix (Gabinete de Segurança Institucional) e José Múcio Monteiro (Relações Institucionais).
Os acabamentos originais do edifício, e os revestimentos de pisos, paredes e tetos deverão ser mantidos. Mas todos passarão por um processo de restauração, especialmente os mármores e granitos. A polêmica sobre a manutenção de carpetes não foi superada. O presidente quer a substituição do carpete, mas Niemeyer é irredutível.
No projeto da reforma, há duas opções para o piso. A primeira é carpete de pelo cortado, com 12 milímetros. O carpete deverá ter certificado de garantia de 10 anos, apresentar aparência homogênea de textura e cor, além de ser antialérgico, ter alta resistência ao desgaste e à poeira, ser impermeável e de fácil limpeza. A segunda opção é assoalho de tábua corrida, em madeira ipê tabaco.
O Palácio receberá ainda novos elevadores e ganhará uma torre externa, nos fundos, para abrigar as copas - é necessária também para criar um rota de fuga em todos os pavimentos do Palácio. As divisórias que serão mantidas terão isolamento acústico, e os vidros comuns serão substituídos por laminados.
Uma das principais queixas de Lula, o sistema hidráulico, será totalmente substituído. As redes de energia, de som e de transmissão de dados também serão modernizadas. E, na parte externa, o piso em pedra portuguesa, hoje cheio de desníveis e remendos, será todo refeito.
Quando for concluída a licitação para reforma do Palácio do Planalto, o contrato com a empresa que fará a obra será assinado pela diretora de Recursos Logísticos da Presidência, Maria de La Soledad Castrillho. Responsável pela administração do Planalto, do Palácio da Alvorada e da Granja do Torto, Marisol, como é chamada, foi apontada como uma das responsáveis pela elaboração do dossiê com gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso no cartão corporativo.
O edital para contratação da empresa tem 823 páginas e detalha todos os passos da reforma. Mas, por uma questão de segurança, as plantas do Palácio não foram tornadas públicas. Elas estão protegidas em um DVD, que será entregue às construtoras interessadas mediante assinatura de termo de compromisso para não fazer uso indevido do material entregue, não veicular informações ali contidas nem reproduzir o material.