Título: Crise deixa, pelo menos, 150 mil trabalhadores em férias coletivas
Autor: Duarte, Patrícia; beck, Martha
Fonte: O Globo, 11/01/2009, Economia, p. 25
Em 41 empresas de vários setores, 5,5 mil contratos foram suspensos.
RIO e SÃO PAULO. Mais de 150 mil trabalhadores de 41 empresas de 15 diferentes setores entraram e ainda estão passando por férias coletivas atípicas desde o fim do ano passado, resultado do abalo da crise financeira internacional sobre a economia brasileira. Outros 114 mil perderam o emprego nesses setores desde outubro de 2008 e mais 5,5 mil tiveram até aqui seus contratos de trabalho suspensos para evitar novos cortes. Os dados foram levantados pelo GLOBO com empresas, sindicatos de trabalhadores e entidades empresariais.
Mas em 2009 o cenário tende a piorar. Segundo Claudia Oshiro, da Tendências, haverá forte retração na geração de novas vagas no país devido às incertezas provocadas pela crise:
- Em 2008, houve alta de 3,7% no número de pessoas ocupadas. Este ano, haverá avanço de apenas 1%. Com isso, haverá ainda menos margem de negociação salarial.
Apesar da redução do IPI, as montadoras continuam programando paradas para ajustar a produção a um ritmo menor de demanda. Os empregados da Volkswagen, da Ford e da GM, que estão voltando das férias coletivas, já foram comunicados de alterações nas jornadas de trabalho. Na unidade de Camaçari (BA) da Ford, por exemplo, as paradas por turno vão resultar em quatro dias a menos de produção este mês.
Mesmo sem ter afetado a demanda por álcool e açúcar, o encolhimento da oferta de crédito fez diferentes empresas do setor negociarem acordos com os sindicatos para suspender os contratos de trabalhos dos seus empregados até abril, quando começa a próxima safra de cana-de açucar. Antonio de Pádua Rodrigues, diretor técnico da Unica (União da Indústria de Cana-de-açúcar), estima ser entre 3 mil e 4 mil o número de trabalhadores do setor que ficarão em suas casas até abril:
- Esses acordos foram a saída para as usinas que esgotaram a produção e os estoques, já que não tinham mais limite de crédito nos bancos.
Construção civil terá mais cortes ao longo de 2009
Depois de fechar 100 mil postos de trabalho no fim de 2008, a construção civil será ainda mais afetada no fim do primeiro semestre deste ano. Segundo Sergio Watanabe, presidente do Sindicato das Construtoras (SindusCon-SP), houve redução de até 40% no número de lançamentos imobiliários no país:
- Os lançamentos foram reduzidos quase que pela metade. Entre o lançamento e o início das obras são seis meses. Por isso, os empregos gerados no setor vão apresentar forte redução - diz Watanabe.
Cerne da atual crise, os bancos também cortaram. Segundo o Sindicato dos Bancários de São Paulo e Osasco, boa parte dos 2.051 bancários demitidos entre outubro e dezembro trabalhavam em instituições de pequeno e médio portes. Semana passada, foram dispensados outros 58 empregados.
Segundo Otton Mata Roma, presidente do Sindicato dos Empregados no Comércio do Rio de Janeiro, o reaproveitamento dos funcionários-extras contratados para o Natal foi de apenas 25%. Em 2007, foi de 45%.
- Entre outubro e dezembro do ano passado, o número de demissões aumentou 13,4%. A maioria dos demitidos tem mais de um ano de emprego, pois são funcionários mais caros - diz Roma.
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