Título: Ninguém vai escapar desse processo
Autor: Duarte, Patrícia; beck, Martha
Fonte: O Globo, 11/01/2009, Economia, p. 25

JOSÉ MÁRCIO CAMARGO

Na avaliação do economista da PUC-Rio José Márcio Camargo, a crise financeira e o consequente encarecimento do crédito vão elevar ainda mais o desemprego ao longo deste ano. Porém, ele ressalta que o reajuste do salário mínimo terá papel essencial para elevar o número de desempregados no país.

Por que o mercado de trabalho foi afetado tão rapidamente com a crise?

JOSÉ MÁRCIO CAMARGO: A produção industrial teve uma reversão muito forte e profunda. Passou de crescimento de 7,1% para recuo de 7,8%. Além disso, houve retração muito forte do crédito, que aumentou as taxas de juros em até seis pontos percentuais. As empresas usam crédito para tudo, até para pagar salários de funcionários. Por isso, houve reflexo imediato no emprego. Em 2009, o desemprego vai subir entre 1,5 e dois pontos percentuais em relação a 2008 (que deve fechar o ano em 7,9%, segundo projeções).

Quais setores serão mais afetados ao longo deste ano?

JOSÉ MÁRCIO: Ninguém vai escapar desse processo. O setor industrial, o automobilístico, o exportador, o de serviços, o agrícola e o de produção mineral. O desemprego vai aumentar muito e todos vão sofrer.

Qual será o efeito para as empresas do aumento do salário mínimo?

JOSÉ MÁRCIO: O reajuste do salário mínimo tem uma regra irreal, balizada pelo crescimento dos anos anteriores da economia. Este ano, a alta vai prejudicar as empresas. Isso vai gerar informalidade e desemprego. As inovações criadas no fim dos anos 90 como o banco de horas e a suspensão dos contratos de trabalho foram importantes para impedir o avanço do desemprego. Seria importante mais inovações para se racionalizar o mercado de trabalho. Eu não considero isso uma flexibilização, pois o Brasil já tem uma legislação bastante flexível.