Título: Oposição diz que objetivo é fortalecer Dilma
Autor: Alvarez, Regina
Fonte: O Globo, 12/01/2009, O País, p. 3

Líder tucano compara crescimento dos gastos federais com divulgação a um "piquenique na beira do vulcão".

BRASÍLIA. Parlamentares da oposição acusam o governo de ignorar a crise econômica e elevar os gastos com propaganda de olho nas eleições de 2010. O senador Demóstenes Torres (DEM-GO) disse que o aumento de 35% nas verbas de publicidade oficial tem dois objetivos: maquiar os efeitos da recessão mundial no país e fortalecer a pré-candidatura da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para ele, os investimentos na divulgação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) são comparáveis à propaganda nacionalista das grandes obras da ditadura militar.

- O governo quer superar a crise com ufanismo, fazendo mais propaganda para dizer que o país vai bem. O presidente tenta manter esse clima de Brasil Grande para fortalecer a sucessora - atacou Demóstenes.

Para o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), o aumento nas verbas de publicidade vai na contramão da necessidade de cortar despesas públicas.

- É hora de mais perícia administrativa, não de desperdício. A crise está aí. Parece que o governo gosta de fazer piquenique na beira do vulcão - criticou.

O tucano disse ainda que o investimento reforçado em propaganda seria uma tentativa de neutralizar as críticas ao governo. Ele lembrou trecho da entrevista de Lula à revista "Piauí" deste mês, em que o presidente disse evitar a leitura de jornais por sofrer de azia:

- Preocupa um homem público dizer que as críticas lhe fazem mal ao estômago. Para o presidente, o que importa é a versão, não o fato.

O deputado petista Paulo Teixeira (PT-SP) disse que o aumento dos gastos com publicidade é proporcional a outros investimentos do governo federal. Ele rebateu as críticas da oposição lembrando que o governador José Serra, pré-candidato do PSDB à Presidência, elevou em 88% as verbas de comunicação do governo de São Paulo para 2009. O orçamento do setor no estado, que inclui a publicidade, saltou de R$166 milhões em 2008 para R$313 milhões este ano.

- O aumento dos investimentos do governo federal é proporcionalmente menor. Em vez de criticar o presidente Lula, a oposição deveria justificar os gastos do governador Serra - disse.

De acordo com a Secom, a estratégia do governo para melhorar a imagem do Brasil no exterior e atrair investimentos para o país terá três focos iniciais. A ideia é oferecer um contraponto às denúncias recorrentes sobre trabalho escravo - muitas vezes associadas à plantação de cana-de-açúcar - e desrespeito ao meio ambiente, além de tentar neutralizar as notícias sobre a violência urbana. Os Estados Unidos são o primeiro mercado-alvo, mas as agências também montarão QGs na Europa e na Ásia.

No próximo dia 21, o subchefe-executivo da Secom, Ottoni Fernandes Junior, se reúne nos Estados Unidos com representantes da Fleishman-Hillard, a parceira americana da CDN, para fechar o planejamento das ações no exterior. Inicialmente, está programada uma nova pesquisa com formadores de opinião para avaliar a imagem do Brasil na crise.