Título: ¿Isso é um crime¿
Autor: Oliveto, Paloma; D´Elia, Mirella
Fonte: Correio Braziliense, 20/03/2009, Brasil, p. 10

Entrevista

Ex-prefeito de Pacaraima (RR) pelo DEM e líder dos produtores de arroz instalados na região da Raposa Serra do Sol, Paulo César Quartiero não acompanhou a sessão plenária do STF ontem. Bastante nervoso, falou com o Correio por telefone. Na quarta-feira, ele se mostrava confiante com o voto ¿ vencido ¿ de Marco Aurélio Mello, mas agora o clima mudou. Temendo violência, ele viaja hoje para Roraima. ¿O que o Supremo fez foi um crime¿, disse.

O que os produtores rurais esperam agora, com o fim do julgamento? Espero que não nos fuzilem, não nos esquartejem. Temos 15 mil cabeças de gado lá, temos colheita. E o que querem fazer com a gente é algo impossível: nos tirar a toque de caixa. O que vai acontecer com os trabalhadores das fazendas, os moradores das cidades? Não são só os fazendeiros, mas os trabalhadores, pessoas humildes, muitos idosos.

Como o senhor interpreta a decisão do Supremo? Isso é uma vingança contra os produtores rurais. Nós concordamos com a retirada, só queremos um prazo normal. O que eles querem? Colocar as pessoas no meio da rua? Isso só pode ser uma vingança. Não dá para entender.

O senhor está preocupado com o valor das indenizações? Não estou preocupado com indenização, estou preocupado com a integridade física dos meus filhos, que estão na fazenda. Estou preocupado em levar um tiro. Quanto à indenização, o governo é caloteiro desde que nasceu. Só queremos um prazo para sair com dignidade. Se deixarem aqueles policiais truculentos, o que vai haver é um massacre da população. Isso é um crime.

O senhor acredita que é possível convencer o ministro relator, Carlos Ayres Britto, a conceder um prazo razoável para a retirada dos não-índios? O que ele quer que a gente faça? Se ajoelhe aos pés dele? Se for isso, vamos lá, de joelho, pedir clemência. O Brasil, por acaso, está em guerra para que se tenha tanta pressa para tirar a gente de lá? Realmente, não sei o que está havendo.