Título: Em Jerusalém, Amorim pede por brasileiros
Autor: Malkes, Renata
Fonte: O Globo, 12/01/2009, O Mundo, p. 21
GUERRA EM GAZA
Ajuda humanitária enviada por Brasília chega a Amã. Para chanceler, país foi reconhecido como interlocutor
Renata Malkes
JERUSALÉM. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, entregou ontem à chanceler de Israel, Tzipi Livni, um memorando oficial pedindo a retirada de dois cidadãos brasileiros da Faixa de Gaza. Após a reunião, que durou cerca de 40 minutos, o ministro se disse satisfeito com a receptividade israelense em aceitar o Brasil como interlocutor das negociações para a suspensão imediata da ofensiva militar em Gaza. Amorim chegou na manhã de ontem ao Oriente Médio para entregar 14 toneladas de alimentos e remédios enviados pelo governo brasileiro à população de Gaza.
- Foi um encontro positivo, embora isso não queira dizer que concordamos, e inclusive a ministra Livni nos pediu que mandássemos certas mensagens ao outro lado. O valor do Brasil como interlocutor foi reconhecido. Não deixei de expressar nossas opiniões, que são compartilhadas com boa parte da opinião pública internacional. Condenamos os ataques terroristas que ocorreram, mas também não podemos ficar alheios às mortes de tantas crianças e tantos civis - disse Amorim.
A visita de dois dias começou com uma parada na Síria, onde o chanceler se reuniu com o presidente sírio, Bashar al-Assad e o ministro do Exterior, Walid Muallem, em Damasco. Hoje Amorim parte para a Cisjordânia, onde se encontra com o primeiro-ministro da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Salam Fayyad, e o chanceler, Riad Malki, na Muqata, sede da ANP em Ramallah. A última parada da visita é Amã, na Jordânia, onde haverá uma cerimônia de entrega das doações aos palestinos.
Embaixada se esforça para retirar brasileiros de Gaza
O carregamento de ajuda saiu do Brasil num avião da Força Aérea Brasileira na última sexta-feira e pousou ontem em Amã. Há medicamentos e alimentos não-perecíveis. As doações serão transportadas por terra à Faixa de Gaza através da Associação Hashemita de Caridade, ligada ao governo jordaniano. A carga já foi desembarcada e colocada em caminhões.
Na Faixa de Gaza, os brasileiros que aguardam a retirada de emergência estão ansiosos pelo momento de deixar o território devastado. A carioca Laila Farid Sahahin, de 35 anos, e seu pai, Farid, vivem há dois anos e meio no campo de refugiados da praia da Cidade de Gaza, onde se concentraram ontem as mais sangrentas batalhas desde o início da ofensiva israelense por terra. Sem luz, água e dizendo-se aterrorizada, Laila contou que já está de malas prontas.
- Passei a noite chorando. Por um lado, não queria deixar meu povo e minha família aqui. Mas meu pai insiste em voltar ao Brasil e, como está muito doente, não posso deixá-lo só. Já arrumei as malas e espero poder sair o mais rápido possível - disse ao GLOBO, por telefone.
De acordo com embaixador do Brasil em Israel, Pedro Motta Pinto Coelho, o pedido de retirada foi aceito "positivamente" pelo governo israelense. E os trâmites legais para a remoção devem ser concluídos dentro de poucos dias.
- Precisamos coordenar esta retirada junto a Israel e providenciar novos passaportes para eles - disse o embaixador.