Título: Alma carioca para o Bradesco
Autor: Rodrigues, Lino; Oliveira, Germano
Fonte: O Globo, 13/01/2009, Economia, p. 17

Luiz Carlos Trabuco, atual presidente da área de seguros, assumirá banco de olho no líder Itaú.

Ofilósofo Luiz Carlos Trabuco Cappi, 57 anos, atual presidente da área de seguros, será o novo presidente do Bradesco, segundo maior banco privado do país. O anúncio foi feito ontem, depois que o Conselho de Administração do banco aprovou a indicação de Trabuco para substituir o atual presidente, Márcio Cypriano, que deixará o posto em março, depois de dez anos de casa. Cypriano, segundo comunicado do banco, não poderá ter seu mandato renovado porque atingiu a idade limite de 65 anos prevista no estatuto para o cargo. Trabuco terá o desafio de reconduzir o Bradesco à liderança do setor bancário brasileiro, perdida para o Itaú após a fusão com o Unibanco, em novembro de 2008.

Paulista de Marília, Trabuco vive na ponte Rio-São Paulo desde 2003. Encantado pelas belezas naturais do Rio - sede da seguradora do grupo - é um defensor do patrimônio da cidade. À frente da seguradora, foi um dos entusiastas da eleição do Cristo Redentor como uma das sete novas maravilhas do mundo. Para isso, pediu votos a amigos empresários de várias partes do mundo e disparou telefonemas até para os governadores de São Paulo, José Serra, e de Minas, Aécio Neves. Também foi sua a iniciativa para apoiar as comemorações dos 200 anos da chegada da família real portuguesa ao Rio. Além disso, manteve o patrocínio à árvore de Natal da Lagoa.

Novo executivo deve aumentar eficiência

Trabuco, cujo nome foi indicação do presidente do conselho, Lázaro de Mello Brandão, é visto pelo mercado como o homem responsável por trazer dinheiro para o grupo. A Bradesco Seguros, que ele dirige desde 2003, contribui com cerca de 40% do resultado do banco. Segundo cálculos do professor da Escola Nacional de Seguros (Funenseg) Gustavo Cunha Melo, com base em dados da Susep, o Bradesco lidera o segmento de seguros, com prêmios de R$11,079 bilhões até outubro. Juntos, Unibanco e Itaú teriam R$10,848 bilhões, e o Banco do Brasil, R$3,969 bilhões:

- Em cinco anos, o Trabuco conseguiu ganhar quase dois pontos percentuais de mercado (até novembro de 2008 o Bradesco tinha 21,7%). Além disso, triplicou o volume de prêmios do grupo e aumentou a rentabilidade da empresa de 36% para 44%. É um monstro.

Formado em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP), Trabuco fez sua carreira dentro do Bradesco, no qual entrou em 1969, aos 18 anos, como escriturário. Visto como inteligente e comunicativo, passou por quase todos os setores do banco. Em 1999, aos 47 anos, foi promovido a vice-presidente, algo precoce para os padrões do banco.

Ele nasceu em outubro de 1951 em Marília, onde Amador Aguiar fundou, em 1943, o Banco Brasileiro de Descontos, hoje Bradesco. Em 1998, ganhou assento na diretoria do banco em Osasco, com o aval de Lázaro Brandão. Em março de 2003, tornou-se vice-presidente da Bradesco Seguros, com sede no Rio, uma das mais poderosas diretorias do banco. Em 2008, do lucro de R$5,819 bilhões até setembro, R$2,098 bilhões vieram da divisão.

- Não acho que a indicação tem a ver com a volta do Bradesco à liderança. Não é como o Ronaldo (Fenômeno), que tem de levar o Corinthians a ser campeão brasileiro - disse o analista de bancos da Austin Ratings, Luiz Miguel Santacreu.

Trabuco, que será o terceiro presidente do banco desde a morte de Amador Aguiar, em 1991, disputou o posto com José Luiz Acar Pedro, da área de patrimônio, e Milton Amilcar Vargas, vice-presidente de relações com investidores.

Segundo funcionários da seguradora, Trabuco é reservado e discreto, mas acessível. O rumor é que ele será substituído por Ricardo Saad, hoje diretor-presidente da Bradesco Auto Re.

Para o analista João Augusto Sales, da Lopes Filho & Associados, Trabuco é uma escolha estratégica. Ele diz que Cypriano tem um perfil agressivo - sob sua gestão, o Bradesco comprou Mercantil, Finasa, Zogbi, PMC, American Express e a corretora Ágora. Por isso seu mandato não teria sido prorrogado, como ocorreu com Lázaro Brandão. Já Trabuco é voltado para processos internos, com ganhos de eficiência.

- Essa é a mensagem que o conselho deseja passar: que não vai inventar a roda, atirar para qualquer lado ou sair comprando bancos a qualquer preço - diz.