Título: Lula: risco de convulsão social em países ricos
Autor: Freire, Flávio; Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 13/01/2009, Economia, p. 19

Presidente anuncia novas medidas ainda este mês e diz que Obama tem "um pepino muito grande" para resolver.

SÃO PAULO e BASILÉIA, Suíça. No primeiro pronunciamento em 15 dias - parte deles em férias -, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que a crise internacional deverá provocar uma "convulsão social" no mundo desenvolvido em consequência do aumento do desemprego nos países diretamente envolvidos na turbulência do mercado. Ele garantiu, no entanto, que o governo deve anunciar ainda em janeiro "importantes medidas" contra os impactos da crise no Brasil, mas que não fará pacotes, para evitar repetir erros do passado. A meta, disse Lula, é fazer o país crescer este ano 4%.

- Todos os países que estão mais diretamente envolvidos nessa crise sabem que essa crise não pode perdurar muito tempo. Com a consequência do desemprego que vai acontecer, exatamente nesses países, corremos o risco de uma convulsão social que o mundo desenvolvido não esperava que acontecesse - disse, sem se referir a demissões no Brasil, na abertura da feira Couromoda, em São Paulo.

Mais cedo, em seu programa de rádio, ele reconheceu que o Brasil também está sofrendo:

- Vamos ter um trimestre preocupante, mas o governo tomará todas as medidas necessárias para que essa crise afete menos o povo brasileiro. Nós precisamos garantir empregos, garantir salário e garantir renda. Esses são três componentes extraordinários para que a economia brasileira continue a crescer e o povo não seja vítima de uma crise que não foi causada pelo Brasil.

Sobre a crise nos Estados Unidos, Lula disse que o presidente eleito, Barack Obama, enfrentará problemas em sua gestão.

- O presidente (Barack) Obama está com um pepino muito grande - disse, para em seguida afirmar que Obama "não pode perder tempo para tentar tomar as medidas para resolver a crise americana".

Serra critica concorrência desleal de calçados chineses

Ainda assim, Lula ratificou seu otimismo:

- Não tinha como deixar de ser otimista. Sou católico, corintiano, brasileiro e presidente do meu país.

Na Couromoda, o governador de São Paulo, José Serra, atacou a concorrência desleal da entrada de calçados importados da China a US$1. Lula concordou, mas alertou que é preciso evitar guerra do protecionismo. Serra reclamou com um fabricante italiano, em tom de brincadeira, que não recebeu o mesmo presente de Lula.

- Quero dizer ao Serra que não posso dar o presente que ganhei, mas se quiser um pé emprestado de vez em quando, para mostrar a harmonia que existe entre São Paulo e o Brasil, pode me falar.

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, admitiu ontem que haverá uma desaceleração nos países emergentes "maior do que se esperava", ao sair de uma reunião com os principais bancos centrais do mundo. Ele disse que este cenário "é algo que tem que ser levado muito a sério" mas que "não há dúvida" de que o Brasil está sofrendo o impacto da crise.

- Já vínhamos dizendo há muito tempo que nenhum país é imune à crise. No entanto, se espera que a desaceleração na economia brasileira seja num grau menor do que em outros emergentes. (...) Em termos relativos é importante saber que o Brasil está em condições melhores.