Título: Câmbio flutuante é mais administrável
Autor:
Fonte: O Globo, 13/01/2009, Economia, p. 20

Dólar após maxidesvalorização de 99 seria o equivalente a R$2,90 hoje.

Dez anos após a adoção do regime de câmbio flutuante, pelo qual a cotação do dólar varia de acordo com as pressões de mercado, os economistas são unânimes: o Banco Central (BC) tem mais condições de controlar o câmbio atualmente do que tinha até então, na época dos regimes de câmbio fixo ou das bandas cambiais. Um dos grandes trunfos do regime é ter permitido, nos últimos anos, a acumulação de reservas internacionais.

Com esta poupança elevada, o país está mais protegido contra uma eventual fuga de capitais e uma especulação contra o real, como houve em 1998 e 1999. O ex-diretor do BC Luiz Fernando Figueiredo considera que o país, na época, teria sofrido menos - com dólar alto e inflação - se tivesse flexibilizado antes o câmbio.

- Infelizmente, as circunstâncias pelas quais deixamos flutuar o câmbio não foram as mais apropriadas. Foi em momento de crise, mas é assim que acontece na maioria dos países. Se tivesse sido antes, teríamos tido uma sobrevalorização menor do câmbio - diz Figueiredo.

Um cálculo levando em conta a inflação brasileira e a americana no período mostra que o dólar a R$1,21 da véspera do que ficou conhecida como a maxidesvalorização cambial equivaleria a uma cotação de R$1,697 hoje. Bem abaixo dos R$2,296 de ontem.

No entanto, considerando o pico do dólar na maxidesvalorização, a divisa americana atingiu R$2,08 em 29 de janeiro de 1999. Isso equivaleria a uma cotação de R$2,904 hoje, superior ao recorde de cotação na crise atual: R$2,536 em 4 de dezembro.

Para chegar a estes números, foi considerada a inflação medida pelo IPCA acumulada desde janeiro de 1999 (de 98,39%), descontada a inflação americana no período (29,29%).

Figueiredo pondera que é simplista comparar as taxas de câmbio atual e da época. Para ele, o Brasil avançou muito desde a 1999 e "um sinal disso são as reservas acumuladas" (de mais de US$200 bilhões).

- A taxa da época contém expectativas sobre o balanço de pagamentos e a taxa de juros. Hoje, não estamos à beira de outra desvalorização - diz José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator.