Título: Brasileiros protestam em Tel Aviv contra o PT
Autor: Malkes, Renata
Fonte: O Globo, 13/01/2009, O Mundo, p. 24

Manifestantes criticam declaração acusando Israel. Amorim se reúne com autoridades palestinas e rebate críticas à viagem

RAMALLAH. Pelo menos 200 brasileiros protestaram ontem à noite em frente à embaixada do Brasil em Tel Aviv contra a nota divulgada na semana passada pelo PT, acusando Israel de "terrorismo de Estado" e "práticas nazistas" na Faixa de Gaza. Com cartazes e bandeiras, os manifestantes condenaram as declarações do partido, alegando que o documento deixaria clara uma posição unilateral e pró-palestina do governo Lula quanto ao conflito.

O protesto foi organizado pelo Conselho de Cidadãos Brasileiros em Israel e pela Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Israel. Os organizadores consideraram "escandalosa e obscena" a nota assinada pelo presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini, e pelo secretário de Relações Internacionais do partido, Valter Pomar, que compara a retaliação a civis a práticas do Exército nazista.

Livni perguntou a Amorim sobre declaração do PT

O protesto aconteceu horas depois de o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, deixar a região. Depois de encontrar-se no domingo com a chanceler israelense, Tzipi Livni, Amorim foi ontem à Cisjordânia para reuniões com o primeiro-ministro palestino, Salam Fayyad, e o ministro das Relações Exteriores, Riad Malki.

Amorim afirmou que o objetivo da visita foi prestar solidariedade ao povo palestino. Ele defendeu a implementação imediata da resolução aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU pedindo o fim da ofensiva israelense na Faixa de Gaza. O ministro destacou ainda a importância da realização de uma "cúpula de presidentes" para discutir a retomada das negociações de paz para a criação do Estado palestino, discutidas em novembro, em Anápolis, nos EUA.

- É muito grave haver decisões da ONU sendo ignoradas. O povo palestino é o que mais está sofrendo. Condenamos o terrorismo e não vamos entrar no mérito de quem começou ou quem é culpado, mas mulheres e crianças têm morrido diariamente e isto tem que acabar. O Brasil, com sua herança de convivência pacífica e sem os interesses ou mesmo a carga histórica de potências colonialistas, pode ajudar - disse.

O ministro disse ter sido questionado por Livni sobre a condenação do PT às ações de Israel e explicou não ser responsável pelo documento. Antes de partir para Amã, onde a delegação brasileira entregou um carregamento de 14 toneladas de ajuda humanitária à população de Gaza, Amorim refutou ainda as críticas pela visita ao Oriente Médio. Em seu blog no GLOBO, o ex-chanceler Luiz Felipe Lampréia havia classificado a viagem de Amorim como um "périplo inútil que beira o ridículo".

- Não vou me incomodar com posições de ex-ministros. Eu mesmo sou um futuro ex-ministro e um dia também vou discordar de colegas. O Brasil foi convidado à Conferência de Anápolis, a todas as reuniões da OMC, e reconhecem a importância do Brasil. Só quem não acredita no Brasil são os brasileiros - afirmou Amorim, que de Amã seguirá para o Cairo.

Em Brasília, depois de ter feito pesadas críticas aos ataques, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi diplomático ontem, em seu programa semanal de rádio "Conversa com o Presidente". Lula reafirmou o reconhecimento brasileiro sobre a importância da criação do Estado do Israel, mas, ao mesmo tempo, defendeu o direito dos palestinos de terem um Estado próprio. Para ele, é necessário haver diálogo entre as partes para que se estabeleça a paz.

- Precisamos deixar claro o nosso reconhecimento pela existência do Estado de Israel e a nossa disposição de ajudar a construir o Estado palestino. É plenamente possível a existência de dois Estados que possam ter relações diplomáticas, e acho que o povo palestino merece essa chance - disse. - Precisamos detectar quem quer os conflitos, colocar essas pessoas numa mesa de negociação para encontrar uma fórmula.

Para Lula, Brasil é exemplo de convivência pacífica

Sem citar nomes, Lula afirmou que a discussão sobre a paz na região deve envolver não apenas Israel e a Autoridade Palestina, mas também os que não querem a paz "e que estão fazendo exigências demasiadas". O presidente disse que o Brasil está empenhado em colaborar para um acordo de paz entre judeus e palestinos e citou o país como exemplo de convivência.

- Nós gostaríamos que, no Oriente Médio, árabes e judeus vivessem como vivem árabes e judeus aqui no Brasil - comparou.

COLABOROU: Chico de Gois, de Brasília