Título: Voto de confiança
Autor: Navarro, Luciana; Nobre, Letícia
Fonte: Correio Braziliense, 20/03/2009, Brasil, p. 13

Apesar do agressivo choque de realidade aplicado sobre o Orçamento da União, o ministro Paulo Bernardo reforçou ontem a artilharia daqueles que, dentro do governo, defendem a manutenção dos reajustes salariais já acertados com o funcionalismo. Embora não tenha dado garantias reais de que os aumentos serão pagos nem descartado um possível adiamento ou até a suspensão das parcelas previstas, Bernardo advertiu em tom de otimismo que os acordos firmados com as categorias só não serão cumpridos se houver uma catástrofe econômica.

Lembrando a reunião que teve com sindicalistas no dia anterior, Paulo Bernardo reconheceu que o cenário inspira cuidados, mas ainda é administrável. ¿Não vamos mudar nenhum acordo, nenhuma decisão¿, disse o ministro. ¿É evidente que se houver uma piora muito expressiva do quadro econômico e da nossa receita vamos ter de rediscutir isso. Temos conversado abertamente com os sindicatos, mas por hora não temos nenhuma mudança sobre isso¿, justificou.

A estratégia do governo de acalmar os sindicatos surtiu efeito. Entidades que estiveram com Bernardo na quarta emitiram ontem comunicados às suas bases fazendo relatos positivos do encontro. ¿O presidente do Sinagências parabenizou a iniciativa do governo em chamar as entidades sindicais para uma conversa dessa ordem, falou que essa posição do governo tranquiliza a categoria¿ Agora ficamos aliviados nesta questão¿, informou a nota oficial distribuída pelo Sindicato Nacional dos Servidores das Agências Nacionais de Regulação. O ¿voto de confiança¿ repercutiu até mesmo entre as carreiras típicas de Estado: a maior parte dos sindicatos que representam a elite do Executivo está convencida de que os aumentos serão efetivados.

Para Nelson Marconi, professor da Fundação Getúlio Vargas, a opção do governo por manter os reajustes ¿ pelo menos por enquanto ¿ é arriscada. ¿Do ponto de vista econômico é completamente ilógico¿, disse. Segundo ele, o Planalto está levando em conta apenas o aspecto político para dar uma solução preliminar para o problema. ¿A questão é política. Parece que o governo não quer comprar briga com essa parte do eleitorado¿, completou o especialista.