Título: Bancões americanos na UTI
Autor: Rangel, Juliana
Fonte: O Globo, 17/01/2009, Economia, p. 25

Bank of America recebe US$20 bi do governo e Citi fatia operações para isolar ativos de risco.

Os bancos deram, mais uma vez, a tônica dos mercados ontem, com os prejuízos de Citigroup e Bank of America (BofA) - sendo que este último ainda recebeu uma ajuda suplementar de US$20 bilhões do governo americano, mais garantias de US$118 bilhões. O Citi também anunciou que vai dividir em dois suas operações, isolando os ativos de maior risco. Mas as bolsas globais acabaram fechando em alta - apesar de os papéis do setor bancário recuarem -, tanto pelo socorro ao BofA como pela expectativa com a posse de Barack Obama, na próxima terça-feira.

O Tesouro americano concordou em ceder mais US$20 bilhões ao BofA, dentro do pacote de socorro à indústria financeira aprovado ano passado, além de garantias para US$118 bilhões de ativos do banco, com o objetivo de amortecer os prejuízos decorrentes da compra do Merrill Lynch, ocorrida em setembro. Em troca desse valor, o governo receberá ações preferenciais com dividendos de 8%, informaram o Tesouro e o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) - o que já suscita, em alguns analistas, temor de nacionalização.

Dos US$118 bilhões em ativos podres, o BofA vai se responsabilizar, em caso de perdas, pelos primeiros US$10 bilhões, e o governo, pelos US$10 bilhões seguintes. O restante será dividido: 10% para o BofA e 90% para o governo.

Citi perde US$8,3 bi e BofA, US$1,79 bi

O BofA também divulgou um prejuízo de US$1,79 bilhão no quarto trimestre, em comparação a um ganho de US$268 milhões no mesmo período de 2007. Em 2008, o banco conseguiu fechar o ano com lucro de US$4 bilhões, bem abaixo dos US$14,98 bilhões de 2007.

O Citigroup, por sua vez, divulgou um prejuízo de US$8,3 bilhões no três últimos meses de 2008 - seu quinto prejuízo trimestral consecutivo - e de US$18,72 bilhões no ano passado. Em 2007, o banco havia fechado o ano com lucro de US$3,6 bilhões.

O diretor-executivo do Citi, Vikram Pandit, também anunciou que as operações do grupo serão divididas entre Citicorp e Citi Holdings. A primeira ficará com as operações bancárias em todo o mundo, enquanto a outra ficará com operações de corretagem, gestão de ativos - inclusive os de maior risco - e financiamentos. A Citi Holdings vai abranger o CitiFinancial e o CitiMortgage (esta unidade cuida de hipotecas).

A Citi Holdings vai assumir os US$301 bilhões em ativos de risco, alvo da garantia concedida pelo governo americano em novembro, no total de US$306 bilhões.

Em Nova York, o Dow Jones fechou com alta de 0,84%, enquanto Nasdaq e S&P subiram 1,16% e 0,76%, respectivamente. As ações do BofA, no entanto, caíram 13%, e as do Citigroup, 3%. Segunda-feira o mercado americano não funciona, devido ao feriado de Martin Luther King Jr.

A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechou em leve alta, acompanhando de perto as notícias sobre os bancos americanos. O Ibovespa, seu principal índice, subiu 0,49%, para 39.341 pontos, com negócios de R$3,6 bilhões. No acumulado da semana, o índice recuou 5,39%. O dólar, por sua vez, caiu 1,55%, para R$2,343. Na semana, a moeda teve alta de 3,12%.

No início do dia, o Ibovespa chegou a ensaiar um movimento de forte alta e subiu 1,92% no rastro das notícias sobre BofA e e Citigroup. Depois caiu, acompanhando a volatilidade dos mercados americanos. Faltando pouco mais de uma hora para o encerramento do pregão, o Ibovespa voltou a subir. Entre as maiores altas estiveram papéis ligados à construção civil e ao varejo.

- Os bancos aumentaram suas apostas em um corte maior da taxa básica de juros na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) - disse Felipe Casotti, economista da área de renda variável da Máxima Asset. - E isso tem reflexo nos setores que são mais dependentes de crédito para expandir suas operações.

Entre as cinco maiores altas do índice estiveram os papéis ordinários (ON, com direito a voto) de Renner (8,3%) e Rossi Residencial (4,4%), bem como as ações preferenciais (PN, sem direito a voto) das Lojas Americanas (3,8%).

Britânico Barclays despenca 25%

No câmbio, o BC aproveitou a queda da divisa - que registrou baixa frente ao euro e à libra - para vender ainda mais dólares no mercado à vista e derrubar as cotações. Segundo estimativas de mercado, o volume de vendas ficou em US$163 milhões, à taxa de R$2,34. O giro financeiro do dia foi de US$2,5 bilhões.

- O anúncio do plano de socorro aos bancos americanos tranquilizou um pouco o mercado de dólar, que vinha numa alta exagerada. Com um cenário melhor em vista, os investidores se voltam para mercados de maior risco e saem dos títulos do Tesouro americano, o que desvaloriza a moeda - disse o diretor de Câmbio da Fair Corretora, Mário Battistel.

As bolsas asiáticas refletiram o socorro ao BofA, anunciado na noite de quinta-feira. A Bolsa de Tóquio subiu 2,58%, acompanhada por altas de 1,78% em Xangai e de 0,09% em Hong Kong. A Bolsa de Londres subiu 0,63%, apesar das quedas nos papéis do setor bancário - as ações do Barclays caíram 25%, e as do Royal Bank of Scotland, 13%. Paris teve alta de 0,70%, e Frankfurt, de 0,68%.

Em Nova York, o barril do tipo leve americano chegou a recuar 2% durante o dia, devido a estimativas de queda na demanda, mas fechou em alta de 3,1%, a US$36,51. Em Londres, o do tipo Brent recuou 2,3%, para US$46,57.

(*) Com agências internacionais

REDE AMERICANA VAI FECHAR E DEMITIR 30 MIL, na página 26

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