Título: De volta às origens
Autor: Lins, Letícia
Fonte: O Globo, 18/01/2009, O País, p. 4

Prefeito Severino Cavalcanti pede voto para Lula, faz caça a "marajás" e elogia vice gay

JOÃO ALFREDO (PE). Ele diz que Brasília nem pensar, que está inteiramente voltado para o município onde iniciou a vida política e no qual retoma o cargo por onde começou: o de prefeito. De olho no segundo mandato, o ex-presidente da Câmara Severino Cavalcanti (PP) não dispensa procissão nem festa, rural ou urbana, pede votos para o "sucessor de Lula" e se declara em campanha pela reeleição do governador Eduardo Campos (PSB).

- (Os eleitores) pensam que Lula vai ser candidato de novo. Não minto nem desminto. Deixo eles pensarem, estou fazendo campanha para o candidato dele. Quando o nome for definido, volto a conversar com o povo. Faço também campanha para Eduardo. Se ele não disputar a reeleição, quem sabe não se candidata a presidente? - especula Severino.

E é assim por onde anda, sejam as ruas estreitas de João Alfredo - a 106 quilômetros da capital - ou em cidades vizinhas, onde exerce influência política e angaria apoios para a filha, Ana Cavalcanti, ex-deputada estadual e hoje no segundo escalão do governo estadual. Após renunciar à presidência da Câmara para não ser cassado por quebra de decoro pelo escândalo do mensalinho, Severino tentou retornar à Casa em 2006. Ficou na primeira suplência, e decidiu então voltar à prefeitura, onde começou há 46 anos.

Aos 78, sonha alto: quer transformar o município em polo moveleiro. Segundo o prefeito, a cidade já é a maior produtora de móveis do estado, empregando cerca de três mil pessoas, mas a maior parte das fábricas é de fundo de quintal. Severino anunciou a demissão de cerca de cem "marajás" - servidores que, segundo ele, ganham até R$3 mil e não trabalham - e investimentos em educação, já que 42% da população são analfabetos.

- O setor de saúde já mudou, pois havia dia em que não tinha um só médico de plantão no hospital. Isso não ocorre mais - comemora.

Ana Maria Cristina, de 34 anos, dá seu aval.

- A fila é rápida e tem médico todo dia - atesta Ana.

Severino ainda não sabe o total de servidores, está examinando as finanças e já tem peregrinado por Recife e Brasília em busca de recursos.

- Tem rua aqui em que a água só chega à torneira uma vez por mês. As tubulações que abastecem João Alfredo têm 40 anos, e grande parte da população é atendida por carros-pipa, inclusive do Exército - diz.

Severino diz estar preocupado também com o destino do lixo, e vem se reunindo com prefeitos vizinhos para formar um consórcio de prefeituras para usar um mesmo aterro sanitário, a ser construído. A situação política no município é confortável. Conseguiu eleger para a presidência da Câmara Municipal seu mais fiel escudeiro, o vereador Wilson França (PP), com oito dos nove votos da Casa.

- Só Juraci Falcão, do PSDB, faz oposição - diz Severino sobre a novata que ganhou o mandato porque o marido, o ex-vice-prefeito José Batista Falcão (PSB), teve a candidatura impugnada.

- Minha mulher ainda não sabe fazer oposição, mas vou ensinar a ela. Ele vai enfrentar oposição, sim - diz Falcão.

Para o feirante José Luís de Souza, de 60 anos, Severino é a esperança do município. Ele nem acredita que o político esteve ameaçado de ser cassado em Brasília.

- Isso não tem nada a ver. Votei nele e voto de novo.

Já o amolador de serrote José Apolinário Portela, de 88, foi às urnas contra Severino:

- Não espero nada dele.

Acusado de homofobia por sua posição radical na Câmara contra o casamento gay, Severino tem como vice Dimas Prazeres dos Santos (PR), homossexual declarado.

- Precisava da inteligência dele. É um profissional sério, tem crédito onde chega. Vários empresários queriam ser meu vice, mas achei que ele era o melhor, porque tem muita popularidade na juventude (onde tinha maior rejeição, de 62%).

Jornalista, historiador, professor de matemática na rede estadual, promotor de eventos e autor de seis livros, Dimas pensa como Severino sobre questões como a união entre pessoas do mesmo sexo:

- Eu não sou macho, mas sou homem. Severino dizia nos comícios que era homem de uma mulher só. Ele é machão? Não, não é. Mas é homem. Eleição não é disputa para se ver quem é macho ou não, mas quem é homem, e homem eu sou.