Título: Grupo de dez empresas do país paga R$736 milhões por ano a executivos
Autor: Frisch, Felipe
Fonte: O Globo, 18/01/2009, Economia, p. 28

Diretores da Vale ganham mais que o triplo da média do Bradesco para o cargo.

As dez principais empresas brasileiras de capital aberto com ações também negociadas em Nova York pagam mais de R$736 milhões por ano aos seus principais executivos. As remunerações individuais chegam a R$5,375 milhões anuais, em média, como é o caso da Vale. O valor é o triplo do que é pago, em média, pelo Bradesco, por exemplo, de R$1,504 milhão, entre a parte fixa, do salário propriamente dito, e a parte variável. Esta inclui os bônus por metas atingidas e os planos de opções de ações, em que os executivos podem comprar ações por valores mais baixos do que os de mercado.

Os valores totais de remuneração por empresa constam dos formulários 20-F, entregues anualmente à Securities and Exchange Commission (SEC), a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) americana, pelas empresas. Os papéis negociados nos EUA são chamados de American Depositary Receipts (ADRs), ou seja, recibos de ações. Os dados são de 2007, pois os de 2008 ainda não foram entregues. A divulgação da remuneração de executivos de companhias abertas no Brasil ganhou relevância no fim de dezembro. Foi quando a CVM brasileira colocou em audiência pública a proposta de alteração da Instrução nº 202, sobre o registro de empresas abertas sugerindo a divulgação da remuneração individual dos principais executivos.

As empresas têm sido contra, usando como argumento questões de segurança. Neste grupo de seletos profissionais estão os diretores executivos, inclusive o presidente, e o conselho de administração, com participação menor no bolo, em tese. Os conselheiros convencionais costumam ganhar de R$10 mil a R$30 mil por mês, dependendo do número de reuniões do conselho e horas gastas por mês. Mas, em muitas empresas, diretoria executiva e conselho se misturam, por estarem os controladores entre os conselheiros.

Presidentes ganham de R$1 milhão a R$12 milhões

A Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca) analisa o texto, para chegar a uma sugestão de alteração na proposta da CVM. Mas o presidente da entidade, Antonio Castro, adianta parte do posicionamento dos empresários:

- Nosso sentimento é de que existem formas capazes de gerar mais transparência, sem precisar da abertura individual. É necessário ter acesso à parte que é variável e à parte que é fixa é muito importante, até segmentando mais a parte variável.

Mesmo nos EUA, onde é exigida a individualização dos salários de executivos das empresas com papéis negociados lá, as companhias brasileiras só divulgam os valores globais - e não individuais - pagos aos executivos. Isso porque a lei americana permite essa menor abertura quando o país de origem não requerer a divulgação individual. Por isso, para levantar a estimativa individual, foi usada uma média do número de membros da administração. Os valores individuais podem ser maiores se a parte dos conselheiros for reduzida na conta.

De modo geral, as empresas brasileiras também não informam que parte é variável e que parte é fixa, ou quanto vai para executivos e quanto vai para os conselheiros. Uma exceção no primeiro caso é o Itaú. No segundo, é a Vale. Todas as dez empresas citadas foram procuradas. Aracruz, Vale, Unibanco e Gerdau informaram que não comentam salários de executivos. As demais não responderam. Mas os especialistas confirmam que a remuneração anual do principal executivo de uma empresa oscila entre R$1 milhão a R$12 milhões, dependendo do tamanho da empresa, como calcula Carlos Eduardo Altona, diretor da Michael Page no Brasil.

Felipe Rebelli, sócio-gerente da área de Remuneração da Towers Perrin do Brasil estima que hoje 60% das empresas tenham um plano de opções de ações para os executivos no Brasil. Ele avalia que, quanto maior for o peso do bônus na remuneração, maior vai ser o foco no curto prazo. Se o maior peso for do plano de opções de ações, o executivo terá maior preocupação com o valor das ações. O ideal é achar o equilíbrio, diz.

- As empresas de capital aberto são de interesse público, porque suas decisões têm impacto na sociedade. Por que a gente sabe o ganho de um vereador? Porque ele é pago por todos nós. Não é diferente numa empresa aberta - diz Ricardo Young, presidente do Instituto Ethos, relembrando os casos de fraudes, como nos EUA no início da década, nas empresas Enron e WorldCom, estimuladas pelos programas de opções de ações agressivos.

Parte variável é metade do total, segundo especialistas

Ele reconhece que uma possibilidade é o dado ser divulgado apenas para a CVM, mas que o mercado deve saber qual percentual é da remuneração fixa e qual é variável.

- A remuneração é um dado importante para investidor, primeiro porque é um custo para empresa. Depois, é importante saber se aquela empresa dá incentivos de curto, de longo prazo. Não temos a mínima idéia de como é essa estrutura no Brasil - diz a superintendente de Desenvolvimento de Mercado da CVM, Luciana Dias.

O diretor da Watson Wyatt na América Latina, Marcos Morales, estima que a parte variável corresponda a 50% a 60% da remuneração dos executivos. No setor financeiro, pode chegar a 70% da remuneração de um alto executivo, avalia o diretor da Hays no Rio, Gustavo Costa. Nos EUA, pode chegar 90% no segmento bancário, segundo Fabiano Cardoso, consultor sênior da Mercer.