Título: Irritado, Lula não comenta carta de Napolitano
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 19/01/2009, O País, p. 8

Mensagem do presidente italiano pedindo a extradição de Battisti foi divulgada antes de ser recebida pelo Planalto.

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou irritado com seu colega da Itália, Giorgio Napolitano. O motivo foi a divulgação prévia, pelo governo italiano, do conteúdo de uma carta enviada pelo presidente Napolitano a Lula, no fim de semana, em que ele manifestava sua insatisfação com o refúgio político dado pelo Brasil ao ex-militante do grupo Proletários Armados para o Comunismo (PAC), Cesare Battisti.

Lula recebeu a carta na noite de sábado e decidiu não comentá-la. Segundo assessores, não havia o que dizer sobre um documento que, "indelicadamente", fora divulgado a agências internacionais, antes mesmo que ele o recebesse. Esse procedimento do presidente Napolitano ajudou a agravar ainda mais o impasse diplomático entre Brasil e Itália.

Italiano continua preso em cadeia de Brasília

Na mensagem, Napolitano se diz porta-voz da "comoção e da compreensível reação que teve em seu país e entre as forças políticas a grave decisão" do ministro da Justiça brasileiro, Tarso Genro. Expressou suas "queixas" e "seu estupor" pela concessão de asilo político a Battisti, julgado à revelia em 1993 na Itália e condenado à prisão perpétua por quatro homicídios.

Após pedir várias vezes às autoridades brasileiras que reconsiderem a decisão, o governo italiano estuda várias medidas, inclusive a possibilidade de recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF). O objetivo é obter a extradição do italiano, que atualmente está preso na Papuda, penitenciária de Brasília.

O presidente do STF, Gilmar Mendes, pediu um parecer à Procuradoria Geral da República sobre o arquivamento do pedido de extradição de Cesare Battisti e a libertação do ex-militante. Só após o relatório do procurador, que não tem prazo para ser entregue, Gilmar vai decidir se arquiva logo o pedido de extradição ou se espera o retorno dos outros ministros, que estão de recesso, para analisar o caso.

Battisti, de 54 anos, foi condenado na Itália, em 1993, à prisão perpétua por quatro assassinatos. Mas refugiou-se na França, em 1990, durante o governo do socialista François Mitterrand, e passou a escrever romances nos quais refletia sobre sua vida na luta armada. O ex-militante chegou ao Brasil em 2004, quando a Justiça francesa invalidou a jurisprudência que o protegia. Foi preso em 18 de março de 2007, no Rio de Janeiro.