Título: Serra leva Alckmin para ser seu secretário
Autor: Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 20/01/2009, O País, p. 9

Governador chama tucano derrotado nas disputas pela Presidência e pela prefeitura e tenta unir o PSDB paulista.

SÃO PAULO, BELO HORIZONTE E BRASÍLIA. Numa jogada política surpreendente, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), anunciou ontem a nomeação do ex-governador tucano Geraldo Alckmin para a Secretaria do Desenvolvimento de São Paulo, no lugar do vice-governador Alberto Goldman. A relação entre Serra e Alckmin estava abalada desde a eleição municipal de 2008, quando o governador, contrariando decisão do PSDB, apoiou informalmente a reeleição de Gilberto Kassab (DEM).

Alckmin não exercia cargo público desde que deixou o governo para disputar a Presidência da República, em 2006. Ano passado, ele ganhou a disputa interna no PSDB, foi candidato a prefeito, mas perdeu a eleição. O comportamento de Serra na campanha contrariou Alckmin. O governador não participou de atos da campanha do tucano, mas foi a inaugurações e eventos ao lado de Kassab. Também é atribuída a Serra a indicação do publicitário Luiz Gonzales para a campanha de Kassab.

Com a nomeação, Serra deve reunificar o PSDB paulista, dividido desde a disputa municipal. Assessores de Serra avaliam que ele resolveu outros problemas ao levar Alckmin para seu governo, como a disputa que se anunciava pela vaga tucana na eleição para governador em 2010. O chefe da Casa Civil de Serra, Aloysio Nunes Ferreira, o deputado federal José Aníbal, Goldman e Alckmin se colocavam como candidatos. A nomeação é interpretada como um gesto de simpatia do governador por Alckmin.

Além disso, Serra levou para o seu lado um dos principais aliados do governador de Minas Gerais, Aécio Neves, seu rival na disputa para ser o candidato tucano à Presidência em 2010.

O anúncio foi cercado de mistério. No início da tarde, a assessoria de Serra informou que ele daria uma entrevista polêmica.

- Era uma idéia que eu acalentava há algum tempo e só recentemente levamos à prática. O martelo só foi batido hoje (ontem) de manhã. Para mim, é uma honra ter um ex-governador recente como secretário - disse Serra.

Alckmin admitiu que Serra é forte candidato à Presidência:

- Não tem nada a ver com a questão de 2010. A eleição está longe. Se não é hora de tratar da própria eleição presidencial, em que o governador Serra desponta como importante candidato do nosso partido, imagine da eleição estadual.

Aécio reagiu com elogios:

- Geraldo incorpora valores fundamentais a um homem público: seriedade, competência e absoluta transparência em todas as suas ações. Ganham o governo e o Estado de São Paulo, que passarão a ter um colaborador de altíssimo nível - disse Aécio, por sua assessoria.

O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), recebeu com euforia a notícia:

- E o Alckmin aceitou? Maravilha! Foi a melhor notícia que tive neste início de ano - comemorou Virgílio, de Nova York, ao ser informado por telefone. - São elogiáveis a grandeza e a humildade dos dois. Com cacife que quase nenhum ministro tem, com 40 milhões de votos, Alckmin retorna oficialmente à vida pública num cargo que já viu de cima. E o Serra foi de uma sabedoria política irretocável.

COLABORARAM: Sueli Cotta e Maria Lima